1ª Parte do Grande Expediente
|
11/06/2015
|
|
Discurso
|
...
|
45ª Sessão
|
Senhor Presidente,
Senhores Vereadores, senhoras e senhores, hoje o que nos traz aqui é a notícia
do último final de semana, manchete de O Dia de domingo, 07 de junho.
“Papa afirma que mundo vive um clima de
3ª Guerra
Francisco critica conflitos e quem
fomenta a especulação de venda de armas”.
Grifei aqui “quem fomenta a especulação
de venda de armas”, porque me parece ser o foco dessa nossa análise. A notícia
continua:
“Os inúmeros conflitos armados espalhados
pelo planeta representam a Terceira Guerra Mundial. O alerta foi feito ontem
pelo Papa Francisco, durante uma visita à cidade de Sarajevo, na Bósnia
e Herzegovina onde ocorreu um grande massacre em 1994.
Em sua Homilia, Francisco ressaltou que
o clima de guerra vivido pela Humanidade é “criado e fomentado pelos que
especulam com a venda de armas”.
“Vivemos numerosos conflitos armados. É
um tipo de Terceira Guerra Mundial combatida ‘em pedaços’...”
Pois bem, essa notícia que vem lá da
Bósnia em razão da declaração do papa, parece-me que não é tão distante para
nós. Eu, por exemplo, e todos nós que moramos na Praça Seca, em Jacarepaguá,
estamos acostumados a perceber o clima de guerra. Estamos, na verdade, em meio
a uma guerra entre traficantes.
Motivado por essas duas situações,
resolvi procurar explicações para essa questão das guerras entre os homens.
Notadamente nos campos da Antropologia, da Sociologia, da Biologia, da História
e da Filosofia.
Por que os homens fazem guerra? Existem
algumas teorias e eu trouxe algumas para analisarmos. Primeiro a teoria que diz
que a guerra entre os homens começou pelo acesso às mulheres. Os grupos se
organizavam para que tivessem acesso para capturar mulheres, para se
satisfazerem do ponto de vista sexual, e esses grupos brigavam contra outros
grupos que tinham a mesma finalidade. Acho que já ultrapassamos esse mecanismo,
esse processo de obtenção da satisfação sexual. Não justifica, portanto, a
nossa guerra urbana – tanto nas favelas, quanto no asfalto.
Segunda teoria: o medo dos predadores.
Um grupo de seres humanos, com medo dos predadores, se organizava, conseguia
armas e conseguia se livrar, teoricamente, dos predadores. Com isso,
evidentemente, faziam rituais de vitória, que certamente transgrediam, passavam
dos limites, que era somente atender à satisfação de vencer os seus predadores
- e acabavam tendo conflito entre eles, para capturarem mais armas e ficarem
mais fortes contra os predadores. Também me parece que essa etapa os seres humanos
já ultrapassaram no Século XXI, não é?
A terceira teoria é a de Malthus, que é
aquela teoria que todos conhecem, em que a população cresce demais
(geometricamente), enquanto o alimento não cresce na mesma proporção (cresceria
aritmeticamente). Nós já sabemos que essa teoria não é aceita no momento.
Outra teoria interessante é a teoria do
pensamento de grupo. Alguns acham que na Guerra do Iraque isso justifica. O que
é? Aqueles que têm afinidade formam grupos - por exemplo, grupos étnicos,
grupos religiosos - que combatem outros grupos. Parece que no mundo ainda
encontramos esse tipo de conflito, mas no Brasil não é uma prática. Graças a
Deus não temos no Brasil, do ponto de vista étnico, religioso, nenhum conflito
a ponto de trazer explicação para essas guerras.
Quando vamos procurar explicação
historicamente, vemos que, em 2.525 a.C., na Suméria, território que hoje é o
Iraque, havia já combates entre humanos, mas o motivo era normalmente por
domínio econômico, territorial e político. Parece também que no Brasil isso não
se percebe.
E vejam mais: “Estudo revela que, em
162 países, apenas 11 não estão em guerra”. O estudo foi realizado pelo IEP
(Instituto para Economia e Paz).
Assim como a Suíça, o Japão e o Chile,
o Brasil não está, segundo o IEP, envolvido em nenhum tipo de conflito.
Entretanto, quando observamos outros indicadores, como a criminalidade, a
população carcerária e a facilidade de acesso às armas, o Brasil cai muito na
colocação geral. No ranking de paz global, ficamos em 91º lugar —
vejam só, mesmo não tendo esse conflito que citamos — na metade de baixo da
lista, em cujos extremos estão a Islândia, em primeiro lugar, e a Síria, em
162º lugar.
Escrevemos, então, um pequeno trecho
sobre a nossa guerra:
“Vivemos, no Rio de Janeiro e em outras
grandes metrópoles brasileiras, a nossa guerra, que tem origem no tráfico de
drogas e no tráfico de armas.
Não há disputa religiosa aqui no
Brasil, étnica, nem geográfica. É a disputa pela venda de drogas que nutre
esses nossos conflitos urbanos em favelas e nas comunidades do asfalto.
A passividade do Poder Público, no que
diz respeito às políticas preventivas de segurança pública, assim como o
frágil, desorganizado e incompetente combate a esse tipo de tráfico, fomentam a
guerra entre as diversas facções que exploram a venda ilícita. Muitas vidas
inocentes se perdem nesse estúpido e, por vezes, corrupto cenário.
A indústria bélica” — e aí nós voltamos
à fala do Papa Francisco — “é muito sofisticada e festeja, no Brasil, o
crescimento dessas facções criminosas, porque, dessa forma, tem como vender as
suas armas e a sua tecnologia de guerra, aumentando os seus ganhos financeiros.
Concluímos que o Papa Francisco
proferiu uma verdade indiscutível: os grandes beneficiários dessas guerras pelo
mundo afora são os que fomentam a especulação da venda de armas.
Eles são os grandes vencedores”.
Nós ainda temos a citar que a Praça
Seca, onde moramos, não tem o privilégio de ser palco dessa luta urbana
inexplicável — pelo menos para quem quer viver em paz — mas que tem as suas
razões, como eu disse, no interesse da venda dessas armas produzidas por esses,
que são os patronos dessa indústria.
Vejam só:
“Moradores vivem clima de terror no
Complexo do Chapadão.
Eles são obrigados até a andar com
comprovante de residência para não terem o carro roubado na região.
O toque de recolher, barricadas e a
convivência diária com bandidos armados de fuzil não são o que mais assusta os
moradores do Chapadão. Atualmente, os moradores seguem regras mais rígidas,
estabelecidas pelo tráfico de drogas. Aterrorizados pela intensificação da
guerra, pelo controle das bocas de fumo e roubo de carga e veículos na região
mais violenta do Rio, os mais de 220 mil moradores do Chapadão têm suas rotinas
alteradas a cada dia. Uma das normas mais recentes é a obrigação de andar com
comprovante de residência, para terem livre acesso ao trânsito de carros. Quem
não tem, pode ter o seu veículo roubado.
O complexo abrange 24 favelas de
Pavuna, Ricardo de Albuquerque, Irajá, Costa Barros, Barros Filho, Anchieta e
Guadalupe.”
Vejam só, senhores: não há dúvida
alguma de que, para a gente terminar com esse quadro, é preciso que as
autoridades encontrem soluções para reduzir essas guerras no Rio de Janeiro.
Guerras que, como nós analisamos do ponto de vista histórico, geográfico,
étnico, não têm razão de ser. Trata-se apenas de uma guerra que é alimentada
para atender aos interesses das indústrias bélicas. Portanto, a receita está
dada: basta que as nossas autoridades públicas tenham vontade política para
resolver.
Muito obrigado!