terça-feira, 26 de janeiro de 2016

1ª Parte do Grande Expediente 16/09/2015 Discurso 72ª Sessão

1ª Parte do Grande Expediente
16/09/2015

Discurso
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72ª Sessão

Senhor Presidente, Senhores Vereadores, senhoras e senhores:
“A CPMF - Contribuição Provisória Sobre Movimentações Financeiras - nasceu em 1997, com o objetivo de arrecadar dinheiro para financiar a saúde no Brasil. Sobreviveu até 2007 quando o Senado derrubou a medida que cobrava uma alíquota de 0,38% de toda e qualquer transação financeira no país. Mas, o dinheiro não ia para a saúde! Na última segunda-feira, dia 14, o Governo propôs a volta da CPMF, mas com uma cobrança menor de 0,2%. Ao contrário do passado, desta vez o dinheiro do imposto, se aprovado, vai bancar a Previdência Social. Mas, tudo indica que também desta vez o dinheiro não irá para o seu destino, ou seja, não irá para a Previdência Social.
Os Ministros Joaquim Levy, da Fazenda, e Nelson Barbosa do Planejamento, querem que a taxa vigore por quatro anos, 48 meses. Por que quatro anos? O Governo quer arrecadar R$ 32 bilhões com impostos. Agora, na prática, em quais situações ou em quais ocasiões a CPMF vai morder o nosso bolso? O Governo não explicou como seria a cobrança da contribuição, cujo texto vai ao Congresso sob a forma de PEC – Proposta de Emenda à Constituição. Economistas, porém, asseguram: nós vamos pagar a CPMF toda vez que mexermos na nossa conta corrente ou conta poupança.
Se repetirem a fórmula do passado, a CPMF vai incidir sobre operações financeiras, como: saques para compras à vista, pagamentos com cartão de crédito, pagamentos com cartão de débito, pagamentos com cheque, transferências bancárias, CDBs e Fundos DI. Até a poupança estará sujeita à tributação, uma vez que o rendimento de cerca de 0,5% ao mês sofrerá a pancada dos 0,2% da CPMF.
O professor da FEA-USP e presidente da Ordem dos Economistas do Brasil, Manuel Enriquez Garcia explica que é impossível fugir da cobrança do imposto porque os nossos salários são depositados em conta corrente. Qualquer retirada já pagaria 0,2%. Qualquer cheque dado sobre a conta, considerando também cartão de crédito ou de débito, representaria uma retirada de 0,2%. O assalariado vai receber 0,2% a menos, de salário. Para cada R$ 100,00 em que você mexe, 0,2 reais, portanto R$ 0,20 são cobrados. Se não mexe na conta, não acontece nada, mas todo mundo acaba mexendo na conta e todo mundo vai sofrer o desconto dessa CPMF.
Se passar pelo Congresso, todo e qualquer centavo arrecadado com a CPMF vai para os cofres da União. Até 2007, esse bolo era dividido com os Estados e Municípios. O Ministro da Fazenda já avisou que o Congresso tem até três meses para apreciar a proposta: temos dois ou três meses para que se possa converter em realidade essa medida. No mês passado o Governo apresentou um orçamento ao Congresso para 2016 em que prevê um saldo negativo de R$ 30,5 bilhões. Com estas medidas agora anunciadas, o Governo quer zerar essa conta e ainda obter o dinheiro para cumprir o superávit primário, economia para pagar juros da dívida de, aproximadamente, R$ 34 bilhões!
Pois é, eles mantêm a quantidade desnecessária de ministérios, permanecem com incontáveis cargos comissionados, apadrinhando amiguinhos, facilitam as coisas para os banqueiros e para os megaempresários. Ao mesmo tempo, dão o nosso dinheiro para países cujos governantes massacram o seu povo, e são permissivos com a corrupção e com a impunidade; brincam com a economia irresponsavelmente; criam uma massa de desempregados parasitas, em nome de uma falsa distribuição de renda, nada produzem e agora nós, trabalhadores, vamos ter que pagar a conta criada por eles.
Como a CPMF incidirá sobre todas as transações bancárias, o imposto contribuirá para o aumento dos preços finais para o consumidor. A CPMF tem um efeito em cascata: cada vez que o dinheiro sai de uma mão para outra, ela é cobrada. Uma alíquota de 0,20% pode parecer baixa, mas o fornecedor paga, o comerciante paga e na ponta da cadeia o consumidor paga também, o que encarece os produtos.
Ainda que a alíquota inicialmente proposta pelo governo seja de 0,20%, quando a CPMF vigorou entre 1997 e 2007, a alíquota inicial era de 0,25% e depois foi elevada para 0,38% em 2002.
Os governadores já se manifestaram dizendo que aceitam negociar no Congresso a volta da CPMF e sua elevação a 0,38% e não 0,20%, para que a arrecadação seja compartilhada com estados e municípios.
O efeito da CPMF sobre os preços pode ser tanto maior quanto mais complexa for a produção do bem em questão. Itens manufaturados, por exemplo, que passam por varias etapas de produção até chegar ao consumidor final, podem sofrer maior aumento de preço.
Alem da provável elevação de preços, ao saber que um novo tributo incide sobre as movimentações, o brasileiro tende a segurar mais seu dinheiro, pensando duas vezes antes de realizar compras e transferências, o que pode reduzir a circulação de dinheiro e contribuir para o esfriamento da economia.
O dinheiro é o lubrificante da economia. Se ele fica mais caro, é como se gerasse mais atrito na máquina. Assim, menos negócios são realizados.
O governo acha que ganha com a CPMF, porque vai melhorar a arrecadação no curto prazo, mas a menor circulação de dinheiro é um freio grande para a economia.
Outro efeito possível da CPMF é a inibição dos investimentos. Em 2001, quando o imposto vigorava, operadores de bolsa chegaram a fazer uma greve para pedir a isenção do tributo para investimentos em ações. Na época, para fugir da CPMF, investidores passaram a comprar mais ADRs (American Depositary Receipt, na sigla em inglês), que são recibos de ações de empresas brasileiras negociados nas bolsas norte-americanas, aumentando as negociações no mercado de ações dos Estados Unidos em detrimento do brasileiro.
A CPMF é muito ruim, porque encarece o insumo básico da economia, que é o dinheiro. A CPMF é um tributo antipático. Tem a desaprovação da quase totalidade do povo brasileiro. Não seria melhor pegar de volta todo o dinheiro que maus políticos e maus empresários desviaram dos cofres públicos - e colocaram nos paraísos fiscais - e dessa forma não onerar ainda mais o tão sofrido povo brasileiro?

Muito obrigado, Senhor Presidente.