1ª Parte do Grande Expediente
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27/08/2015
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Discurso
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64ª Sessão
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Senhor Presidente, senhores vereadores, senhoras e
senhores. O que nos traz a esta tribuna, eu chamaria de um tema muito
relevante, muito importante para a nossa cidade, para a nossa reflexão que eu
nomeie de: a escola não pode ser palco para valorização dos maus exemplos. E
peço a atenção de todos os senhores para o grave incidente, pela minha ótica,
depois de trabalhar 44 anos dando aula no ensino médio e no ensino fundamental,
28 anos dirigindo escola pública municipal em Ricardo de Albuquerque, eu tenho
que trazer isso aqui como um caso seriíssimo.
Eu começo dizendo o seguinte: como tudo ficou em
torno da geografia - como vocês vão perceber - eu achei oportuno dizer o
seguinte: geografia é uma ciência que estuda as características da superfície
do planeta Terra, os fenômenos climáticos e a ação do ser humano no
meio ambiente e vice-versa. Esse é o conceito de Geografia.
A Geografia é uma ciência muito importante, pois
permite ao homem compreender melhor o planeta em que vive e, para isso, ela
dispõe de diversos recursos matemáticos e tecnológicos.
A estatística, por exemplo, é muito usada na área
da pesquisa populacional. Os satélites são fundamentais na elaboração de mapas,
além de fornecerem dados importantes para a verificação da mudança da vegetação
do planeta.
Então, os senhores estão vendo a grande importância
da Geografia para nós, seres humanos.
No Brasil, o estudo da Geografia é obrigatório para
alunos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio e deve ser oferecido por todas
as escoas, em todas as séries.
Eu destaquei aqui alguns aspectos da Geografia
importantes: a Geografia Física estuda o relevo, os rios, a vegetação; a
Geografia Humana estuda a população, o crescimento demográfico, a alfabetização
e a migração dos povos; a Geografia Política estuda as relações políticas, os
conflitos entre as nações; a Geografia que chamamos de Cartografia, a
elaboração e a interpretação de mapas; a Geografia Turística estuda o
desenvolvimento do turismo mundial e regional; a Geografia Urbana estuda o
desenvolvimento das cidades, o planejamento urbano; a Geografia Social estuda
os problemas sociais, a violência, o desemprego, a falta de habitação; a
Geomorfologia estuda as formas de superfície terrestre; a Climatologia estuda a
temperatura e os fenômenos climáticos, seca, furacões, tempestades; e a
Hidrografia, para terminar, faz os estudos hídricos dos mares, rios, lagos e
oceanos.
Essa é a visão da Geografia, uma matéria
extremamente importante para a formação humana da criança, do jovem e para
nossa percepção de mundo. Então, qual foi a razão que me fez trazer aqui ao
Plenário, à Tribuna, essa noção de Geografia? Qual foi a razão de escolhermos o
tema Geografia para nossa fala de hoje, aqui nesta Tribuna?
A razão está baseada numa manchete do dia 25 de
agosto de 2015, portanto, esta semana, que dizia o seguinte: “Traficante
Playboy vira questão de prova em colégio e gera críticas no Rio.”
Vou repetir, pois isso é muito sério: “Traficante
Playboy vira questão de prova em colégio e gera críticas no Rio.”
Observem: quem passou pela escola, em algum
momento, quem estudou, quem é professor, quem é pedagogo, observe qual foi a
questão.
Questão 10 da prova: “No último sábado, dia 8 de
agosto, foi morto um dos bandidos mais procurados do Rio de Janeiro. O nome
dele era Celso Pinheiro Pimenta, mais conhecido como:”
Foi dada uma informação sobre esse meliante e pedem
o apelido dele.
Múltipla escolha:
“a) Fu da Mineira; b) P.Q.D.; c) Dudu 2 D; d)
Playboy; e) Cabeção”
O que essa questão traz de Geografia e de formação
para uma criança que está no Ensino Fundamental?
“O traficante Celso Pinheiro Pimenta, Playboy,
morto no dia 8 de agosto, virou questão de prova. Os alunos do 3º e 5º ano
do Ensino Fundamental do Centro Educacional
Macedo Silva, de Realengo, na Zona Oeste do
Rio, responderam a uma pergunta sobre a identidade do criminoso em uma prova de
Geografia, feita há uma semana. A questão, de múltipla escolha, aplicada na
última terça-feira, perguntava o apelido do bandido morto e dava como opções os
apelidos de outros criminosos. A abordagem incomodou alguns responsáveis, que
chegaram a procurar a direção da escola.
— Eu achei um absurdo! Inclusive, vim aqui na
escola para falar sobre isso. Em casa eu evito que meu filho fique sabendo
dessas coisas, aí a escola bota isso em uma prova? — questiona Patrícia Passos,
mãe de um aluno de 11 anos que fez a prova.”
E mais: no Facebook, Aline Siqueira, mãe de uma
aluna do 3º ano e outro do 5º ano, mostrou-se indignada e publicou uma foto da
prova — está aqui a foto da prova que ela publicou — e a postagem recebeu
dezenas de curtidas e foi apoiada por outros pais. Diz ela, palavras da mãe:
“Caraca! Elas...” — as filhas — “só veem desenho.
Será que estou errada em estar indignada?”, escreveu a responsável. Em um dos
comentários, um dos amigos comentou “Mais uma forma de enaltecer a cultura da
bandidagem”. Aline acredita que a postura da escola acabou estimulando a
curiosidade das crianças, que foram procurar quem eram os outros criminosos que
apareceram na questão múltipla escolha.”
(INTERROMPENDO A LEITURA)
Olhem bem até onde chegou essa questão. Apologia do
mal. Há uma semana, eu falei aqui sobre a cultura do mal, da cultura do bem,
fazendo uma comparação. E uma escola de ensino fundamental, ainda que
particular, tem responsabilidade pública, tem responsabilidade na educação. E
aí vem a nota da escola. A nota da escola diz o seguinte:
(LENDO)
“O Centro Educacional Macedo Silva vem, em nome da
direção e equipe pedagógica, esclarecer sobre a questão ATUALIDADES contida na
prova de Geografia Aplicada para o Ensino Fundamental. NOSSO OBJETIVO É O DE
ABORDAR ASSUNTOS GERAIS DO NOSSO COTIDIANO,”
Faça-me o favor! Que assunto geral? Continua.
“como fazemos em nossas aulas. Nossa proposta
pedagogia expressa claramente em um dos seus objetivos de ensino (...)
compreender a cidadania como participação social e política, assim como o
exercício de direitos e deveres, e repúdio às injustiças”.
Onde é que essa questão trata desse tema? Procurar
o apelido do bandido tem a ver o que com defesa dos direitos? E a nota por aí
vai.
Senhor Presidente, eu não vou me alongar, porque
acho que a abordagem está feita, mas eu só queria encerrar dizendo o seguinte:
essa nota da escola, em nada, absolutamente nada, justifica a absurda,
lamentável, deprimente questão. A escola não pode ser o espaço para a
valorização dos maus exemplos da sociedade. A escola deve ser crítica, sim, em
relação aos temas mais relevantes e mais atuais da sociedade, mas cuidados
devem ser tomados, para que nós conscientizemos nossas crianças de maneira a
formar bons cidadãos, e não a fazer apologia nem defesa de pessoas que só
trouxeram aspectos negativos para nossa sociedade. É preciso repensar o
comportamento da escola como um segmento da sociedade importantíssimo na
formação de nossa cidadania.
Muito obrigado!