terça-feira, 5 de janeiro de 2016

1ª Parte do Grande Expediente 27/08/2015 Discurso 64ª Sessão

1ª Parte do Grande Expediente
27/08/2015

Discurso

64ª Sessão

Senhor Presidente, senhores vereadores, senhoras e senhores. O que nos traz a esta tribuna, eu chamaria de um tema muito relevante, muito importante para a nossa cidade, para a nossa reflexão que eu nomeie de: a escola não pode ser palco para valorização dos maus exemplos. E peço a atenção de todos os senhores para o grave incidente, pela minha ótica, depois de trabalhar 44 anos dando aula no ensino médio e no ensino fundamental, 28 anos dirigindo escola pública municipal em Ricardo de Albuquerque, eu tenho que trazer isso aqui como um caso seriíssimo.
Eu começo dizendo o seguinte: como tudo ficou em torno da geografia - como vocês vão perceber - eu achei oportuno dizer o seguinte: geografia é uma ciência que estuda as características da superfície do planeta Terra, os fenômenos climáticos e a ação do ser humano no meio ambiente e vice-versa. Esse é o conceito de Geografia.
A Geografia é uma ciência muito importante, pois permite ao homem compreender melhor o planeta em que vive e, para isso, ela dispõe de diversos recursos matemáticos e tecnológicos.
A estatística, por exemplo, é muito usada na área da pesquisa populacional. Os satélites são fundamentais na elaboração de mapas, além de fornecerem dados importantes para a verificação da mudança da vegetação do planeta.
Então, os senhores estão vendo a grande importância da Geografia para nós, seres humanos.
No Brasil, o estudo da Geografia é obrigatório para alunos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio e deve ser oferecido por todas as escoas, em todas as séries.
Eu destaquei aqui alguns aspectos da Geografia importantes: a Geografia Física estuda o relevo, os rios, a vegetação; a Geografia Humana estuda a população, o crescimento demográfico, a alfabetização e a migração dos povos; a Geografia Política estuda as relações políticas, os conflitos entre as nações; a Geografia que chamamos de Cartografia, a elaboração e a interpretação de mapas; a Geografia Turística estuda o desenvolvimento do turismo mundial e regional; a Geografia Urbana estuda o desenvolvimento das cidades, o planejamento urbano; a Geografia Social estuda os problemas sociais, a violência, o desemprego, a falta de habitação; a Geomorfologia estuda as formas de superfície terrestre; a Climatologia estuda a temperatura e os fenômenos climáticos, seca, furacões, tempestades; e a Hidrografia, para terminar, faz os estudos hídricos dos mares, rios, lagos e oceanos.
Essa é a visão da Geografia, uma matéria extremamente importante para a formação humana da criança, do jovem e para nossa percepção de mundo. Então, qual foi a razão que me fez trazer aqui ao Plenário, à Tribuna, essa noção de Geografia? Qual foi a razão de escolhermos o tema Geografia para nossa fala de hoje, aqui nesta Tribuna?
A razão está baseada numa manchete do dia 25 de agosto de 2015, portanto, esta semana, que dizia o seguinte: “Traficante Playboy vira questão de prova em colégio e gera críticas no Rio.”
Vou repetir, pois isso é muito sério: “Traficante Playboy vira questão de prova em colégio e gera críticas no Rio.”
Observem: quem passou pela escola, em algum momento, quem estudou, quem é professor, quem é pedagogo, observe qual foi a questão.
Questão 10 da prova: “No último sábado, dia 8 de agosto, foi morto um dos bandidos mais procurados do Rio de Janeiro. O nome dele era Celso Pinheiro Pimenta, mais conhecido como:”
Foi dada uma informação sobre esse meliante e pedem o apelido dele.
Múltipla escolha:
“a) Fu da Mineira; b) P.Q.D.; c) Dudu 2 D; d) Playboy; e) Cabeção”
O que essa questão traz de Geografia e de formação para uma criança que está no Ensino Fundamental?
“O traficante Celso Pinheiro Pimenta, Playboy, morto no dia 8 de agosto, virou questão de prova. Os alunos do 3º e 5º ano do Ensino Fundamental do Centro Educacional
Macedo Silva, de Realengo, na Zona Oeste do Rio, responderam a uma pergunta sobre a identidade do criminoso em uma prova de Geografia, feita há uma semana. A questão, de múltipla escolha, aplicada na última terça-feira, perguntava o apelido do bandido morto e dava como opções os apelidos de outros criminosos. A abordagem incomodou alguns responsáveis, que chegaram a procurar a direção da escola.
— Eu achei um absurdo! Inclusive, vim aqui na escola para falar sobre isso. Em casa eu evito que meu filho fique sabendo dessas coisas, aí a escola bota isso em uma prova? — questiona Patrícia Passos, mãe de um aluno de 11 anos que fez a prova.”
E mais: no Facebook, Aline Siqueira, mãe de uma aluna do 3º ano e outro do 5º ano, mostrou-se indignada e publicou uma foto da prova — está aqui a foto da prova que ela publicou — e a postagem recebeu dezenas de curtidas e foi apoiada por outros pais. Diz ela, palavras da mãe:
“Caraca! Elas...” — as filhas — “só veem desenho. Será que estou errada em estar indignada?”, escreveu a responsável. Em um dos comentários, um dos amigos comentou “Mais uma forma de enaltecer a cultura da bandidagem”. Aline acredita que a postura da escola acabou estimulando a curiosidade das crianças, que foram procurar quem eram os outros criminosos que apareceram na questão múltipla escolha.”
(INTERROMPENDO A LEITURA)
Olhem bem até onde chegou essa questão. Apologia do mal. Há uma semana, eu falei aqui sobre a cultura do mal, da cultura do bem, fazendo uma comparação. E uma escola de ensino fundamental, ainda que particular, tem responsabilidade pública, tem responsabilidade na educação. E aí vem a nota da escola. A nota da escola diz o seguinte:
(LENDO)
“O Centro Educacional Macedo Silva vem, em nome da direção e equipe pedagógica, esclarecer sobre a questão ATUALIDADES contida na prova de Geografia Aplicada para o Ensino Fundamental. NOSSO OBJETIVO É O DE ABORDAR ASSUNTOS GERAIS DO NOSSO COTIDIANO,”
Faça-me o favor! Que assunto geral? Continua.
“como fazemos em nossas aulas. Nossa proposta pedagogia expressa claramente em um dos seus objetivos de ensino (...) compreender a cidadania como participação social e política, assim como o exercício de direitos e deveres, e repúdio às injustiças”.
Onde é que essa questão trata desse tema? Procurar o apelido do bandido tem a ver o que com defesa dos direitos? E a nota por aí vai.
Senhor Presidente, eu não vou me alongar, porque acho que a abordagem está feita, mas eu só queria encerrar dizendo o seguinte: essa nota da escola, em nada, absolutamente nada, justifica a absurda, lamentável, deprimente questão. A escola não pode ser o espaço para a valorização dos maus exemplos da sociedade. A escola deve ser crítica, sim, em relação aos temas mais relevantes e mais atuais da sociedade, mas cuidados devem ser tomados, para que nós conscientizemos nossas crianças de maneira a formar bons cidadãos, e não a fazer apologia nem defesa de pessoas que só trouxeram aspectos negativos para nossa sociedade. É preciso repensar o comportamento da escola como um segmento da sociedade importantíssimo na formação de nossa cidadania.

Muito obrigado!