1ª Parte do Grande Expediente
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26/11/2015
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Discurso
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103ª Sessão
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Senhor Presidente,
Vereador Professor Rogério Rocal, Senhor Vereador Cesar Maia, Vereador Renato
Cinco, senhoras e senhores:
Na terça-feira, eu comentei sobre um
encontro que tivemos em Jacarepaguá, mais precisamente na Praça Seca, a
respeito da participação da mulher na política brasileira. Discutimos
aproximadamente durante três horas. E eu, ao final, como já disse na
terça-feira, formulei umas perguntas para que aquelas participantes do debate
me enviassem as respostas depois, a fim que de que eu fizesse uma análise e
apresentasse aqui na Câmara.
Eu achei isso bastante oportuno,
porque, em geral, trazemos aqui a nossa opinião – dificilmente vamos ao campo
colher as opiniões das pessoas, para servir de base para o nosso discurso.
Então, em respeito àquelas pessoas, que tiveram o cuidado de se debruçarem
sobre as perguntas e a elas responder, eu estou trazendo aqui um resumo do que
lemos. Repito: em respeito àquelas participantes. Isso aconteceu no dia 5 de
novembro.
A primeira pergunta – isso é
interessante para nós – foi a seguinte: Por que você não participa da política
brasileira?
Toda a plateia era composta por
senhoras, por mulheres – vamos dizer assim – de níveis sociais diferentes,
escolaridades diferentes. E as mais importantes respostas foram as seguintes,
importantes para a nossa análise, nós, parlamentares, nós, políticos
brasileiros:
“1.1 – Porque não acredito nos
políticos; eles só querem poder para corromper pessoas e enriquecer; eles só
procuram o povo na hora das eleições”.
Olhem só, está aqui o óbvio, não é? É a
opinião que nós mesmos, políticos, imaginamos que seja a opinião pública, a
opinião das pessoas. É preciso ter coragem de submeter-se a essa pergunta e
obter a resposta no campo, e não na teoria.
Outra resposta:
“1.2 – “Participo timidamente, porque
tenho desconfiança, já que os políticos contaminam as pessoas.”
Olhem que gravidade! Os políticos, nós
contaminamos as pessoa – essa é a visão.
Outra resposta:
“1.3 – Porque sempre fui colocada a uma
distância grande entre o saber/ conhecer/participar/pensar/lutar na política.
Tudo sempre veio pronto para nós. Para o sistema, mulher boa é mulher calada,
submissa. Os políticos querem se aproveitar da nossa ingenuidade, e nada mais.”
Outra resposta a essa mesma pergunta:
“1.4 - Não participo como gostaria, mas
procuro estar sempre a par do que acontece no cenário político nas esferas
federal, estadual e municipal, através da leitura de artigos, reportagens,
entrevistas, noticiários e participando de encontros e reuniões.”
Outra resposta a essa mesma pergunta:
“1.5 - Já manifestei diversas vezes a
vontade de participar, mas sempre aparece uma novidade envolvendo escândalos
políticos, e a minha própria família acaba desestimulando, ao dizer que devemos
observar com quem estamos nos misturando.”
Vejam só! Nesta leitura os políticos
são facínoras. E de qual grupo estamos participando? Quadrilha. Daí surge a
incerteza de começar. Os políticos são seres mentirosos. Só aparecem no meio do
povo na época da eleição para pedir votos.
E a última resposta a essa pergunta que
eu selecionei:
“1.6 - Eu participo ativamente da
política brasileira formando cidadãos e profissionais formadores de opinião
através do meu trabalho educacional.”
Certamente deve ser uma professora ou
um agente educador; enfim, está ligada à educação pelo que ela diz, mas
participa efetivamente. Não é política partidária, mas de qualquer maneira é o
exercício político.
A segunda pergunta consiste em: Por que
as mulheres em geral não participam da política?
Agora a gente generaliza, não é mais
individual.
A primeira resposta é:
“2.1 - Acho que as mulheres não
participam da política porque não acreditam no próprio potencial e porque acham
que é uma coisa masculina.”
Olhem a resistência! Olhem o estigma!
Olhem a autodiscriminação, autodesvalorização!
Outra resposta:
“2.2 - A própria história brasileira
mostra o curto prazo em que a mulher foi legalmente introduzida à política, mas
este é um quadro que vem mudando nos últimos tempos.”
Outra pergunta:
“2.3 - Por que preferem observar de
longe e por que não descobriram ainda a força que têm.”
Uma resposta:
“2.4 - A meu ver, as mulheres não
participam da política brasileira pelo histórico da participação social da
mulher.”
Outra pergunta:
“3 - De que forma você vê os partidos
políticos?”
A resposta:
3.1 - Eu me reservo o direito de não
escolher partidos e, sim, o político, mesmo sabendo que um não caminha sem o
outro.”
Isso é grave, porque o ideal numa
democracia é que nós tenhamos partidos fortes e não a pessoa, senão acontece
aquilo que nós vimos aqui no discurso do nosso antecessor, no caso, o Vereador
Cesar Maia, em que nós temos um senador eleito com quase cinco milhões de
votos, agora envolvido em problemas; porque é a pessoa. Ninguém votou nesse
senador por questão partidária. Ninguém votou no senador pelas suas ideias. Foi
uma seleção de “menos esse, menos aquele, afasta esse”, e terminou esse porque
é jogador de futebol. Então, o partido tem que ser forte. Isso compete aos
próprios partidos. Claro, devem-se fortalecer os partidos. O que nós temos hoje
inegavelmente são siglas eleitorais e não partidos fortes. Todos! Isso aí é uma
realidade: nós não conseguimos atrair a população para ter uma vida partidária.
Mas já tivemos isso aí.
Outra resposta:
“3.2 - Vejo os partidos políticos como
associações interativas de interesse comum.”
O que eu leio aí nesse discurso é que
ela vê como se fosse realmente uma formação de quadrilha. A gente tem que ser
contundente na leitura.
Outra:
“3.3 - Hoje, os partidos políticos não
representam fielmente as bandeiras que levantam. Alguns deles são apenas
plataformas para políticos menos comprometidos.”
Outra resposta:
“3.4 - Eu os vejo como se fossem
grupos, na sua maioria de homens buscando lugar à sombra. Como o nome diz,
‘partido’ deveria ser parte da sociedade representada por um grupo, mas não os
vejo assim.”
Em relação à pergunta: “4 -
Identifique, qualifique os políticos com uma só palavra”, obtivemos as
respostas:
“4.1 – Desrespeito;
4.2 – Questionáveis;
4.3 – Oportunistas.”
Olhem a que estamos reduzidos!
E continua:
“4.4 – Associações;
4.5 – Corruptos;
4.6 - Desacreditados.”
Senhor Presidente, em atenção a essas
mulheres...
Para encerrar, Senhor Presidente, a
pergunta: Como resolver os problemas de uma nação, de um país, de um povo sem
recorrer à política?
É claro que é através da política, e
algumas chegaram a dizer que até nos países autocráticos a política é
fundamental, mas tem que haver, segundo elas, e nós sabemos também, uma grande
reforma nos nossos paradigmas. Então, para encerrar, quero dizer que nós
homenageamos com isso a participação efetiva das mulheres daquela reunião, e
vamos continuar trabalhando desta maneira, ouvindo o campo e trazendo as
ideias, não só as nossas, mas também aquelas que nós colhemos junto à população
do Rio de Janeiro.
Muito obrigado, Senhor Presidente.