terça-feira, 26 de janeiro de 2016

1ª Parte do Grande Expediente 24/11/2015 Discurso 101ª Sessão

1ª Parte do Grande Expediente
24/11/2015

Discurso
...
101ª Sessão

Senhor Presidente, Professor e Vereador Rogério Rocal, senhores vereadores, senhoras e senhores: Hoje, o tema que trago aqui para vocês é a respeito da participação da mulher na política brasileira.
No dia 14 de novembro nós nos reunimos com um grupo de mulheres da Zona Oeste e da Zona Norte na Praça Seca, em Jacarepaguá, quando tivemos a oportunidade de discutir o tema “a participação da mulher na política brasileira”. Iniciamos o evento com o tema motivador: mulheres recebem ou receberam 74,5% do salário dos homens em 2014. Essa afirmativa é fruto de uma pesquisa do IBGE. Segundo o Instituto, a renda média dos homens foi de R$ 1.987,00, e das mulheres R$ 1.480,00. Isso é uma afronta ao princípio constitucional da isonomia.
Ainda como provocação ao debate, apresentamos reportagem do Jornal O Dia, de 14 de novembro de 2015, em que se lia: denúncia de violência doméstica contra a mulher dispara na Zona Oeste.
O jornal veiculou que, de janeiro a outubro deste ano, foram 76.144 casos; 9.405 a mais do que no mesmo período do ano passado, que registrou 66.739, isto é, um aumento de 14,09%. E a constatação fica pior quando a gente tem o seguinte dado: a cada 7,5 minutos, uma mulher é vítima de violência doméstica. São 10 por hora e 250 ao dia, no Rio de Janeiro.
Há poucos dias, no nordeste brasileiro e mais notadamente em Pernambuco foram detectados inúmeros casos de microcefalia e o Ministro da Saúde recomendou que as mulheres não engravidassem antes de se ter uma melhor explicação para esse gravíssimo problema.
O Congresso Nacional vem discutindo há décadas a questão do aborto e ao que se sabe a esmagadora maioria dos congressistas é feita de homens e não de mulheres. Porque esses temas acima listados não são discutidos por mulheres? Porque os homens definem as condutas a serem seguidas por mulheres? A resposta é simples. As mulheres não têm efetiva representatividade na política, por isso seus interesses e a sua intimidade são definidas pelos homens.
Durante grande parte da história do Brasil as mulheres não tiveram participação na política, pois a elas eram negados os principais direitos políticos como votar e se candidatar. Somente em 1932, durante o governo de Getúlio Vargas, as mulheres conquistaram o direito ao voto e a serem candidatas.
Em 1933, Carlota Pereira de Queiroz tornou-se a primeira deputada federal brasileira. Em 1975, ocorreu a fundação do Centro da Mulher Brasileira. Em 1979, Eunice Michiles tornou-se a primeira Senadora do Brasil. Entre 24 de agosto de 1982 e 15 de marco de 1985, o Brasil teve a primeira mulher ministra. Foi Esther de Figueiredo Ferraz, ocupando a pasta da Educação e Cultura.
Em 1985, ocorre a criação do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher. Em 1989, ocorre a primeira candidatura de uma mulher para a Presidência da República, que foi Maria Pinto de Abreu do PN (Partido Nacional). Pouquíssimas pessoas têm lembrança disso. Em 1995, Roseana Sarney tornou-se a primeira governadora brasileira. Em 31 de outubro de 2010, Dilma Roussef venceu as eleições presidenciais no segundo turno e tornou-se a primeira mulher presidente do Brasil.
Mas o que afasta as mulheres da política brasileira?
0 Brasil tem uma das taxas mais baixas do mundo de participação feminina no sistema político, atrás de países como o Iraque. O mesmo Iraque onde a gente sabe que boa parte das mulheres usa a burca, pois é, o Brasil fica atrás do Iraque em questão de participação feminina na política.
As cotas de gênero são fundamentais para a eleição de mulheres, mas se não forem significativas - de 30% a 40% - tem muito pouco impacto.
Ha propostas no Congresso para reservar percentuais crescentes ate atingirem 16%, o que ainda deixaria o país abaixo da media mundial, que é de 20%.
Apesar de a maioria dos eleitores brasileiros serem do sexo feminino, apenas 9,94% dos 513 parlamentares da Câmara dos Deputados são mulheres, ou seja, menos que 10%. No Senado, a representação feminina sobe para 16%. Com números tão baixos, o Brasil aparece na 116ª posição no ranking mundial da União Interparlamentar que compila dados de 190 países.
Na Costa Rica, onde 33,3% dos deputados são do sexo feminino, a Lei Eleitoral exige que 50% dos candidatos sejam mulheres e não permite que duas pessoas do mesmo sexo sejam incluídas de forma subsequente na lista de candidatos.
O código eleitoral argentino prevê que as listas dos partidos tenham, ao menos, 30 % de candidatos do sexo feminino e, no parlamento, é obrigatório haver, ao menos, uma mulher a cada dois homens. No ranking, a Argentina está apenas duas posições atrás da Alemanha, que ocupa o vigésimo lugar.
Para especialistas, os partidos políticos são o maior entrave. Eles são instituições fechadas e ignoram os avanços que as mulheres fizeram na sociedade. São poucos os partidos que fomentam a participação feminina. Elas exercem atividades políticas nos bairros, nas ONGs e, mesmo assim, são brecadas nos partidos políticos. A falta de representação feminina no congresso prejudica a elaboração de políticas públicas e afeta os direitos sociais da mulher.
Nós trouxemos aqui uns dados interessantes das eleições de 2004, 2008 e 2012, senhor Presidente, para finalizar.
Em 2004, nós tivemos participação de 22,1% de candidatas mulheres; homens, 77,9%. Em 2008, o número não muda: 22,1% mulheres; 77,9% homens. Em 2012, registra-se um salto positivo, embora ainda tímido: 31,9% de participação feminina contra 68,1% de participação masculina.
Mas o pior é quando se fala efetivamente em mulheres eleitas. Em 2004, foram eleitas, 12,7% de mulheres, contra 87,3% de homens. Em 2008, 12,5%; caiu um pouco, e para os homens, 87,5%. Em 2012, 13,3% de mulheres eleitas; e 86,7% de homens eleitos. Quer dizer, uma esmagadora maioria masculina. As políticas públicas femininas, portanto, são discutidas pelos homens! Parece algo muito contraditório.
Há que se ter, dos partidos políticos, da sociedade, enfim, um estímulo maior à participação feminina. Nós, nesse encontro das mulheres em Jacarepaguá, formulamos seis perguntas que servissem para nossa análise. Primeira pergunta: por que você não participa da política brasileira? Segunda: por que as mulheres, em geral, não mais você apenas, não participam da política brasileira? Terceira: de que forma você vê os partidos políticos? Quarta: identifique e qualifique os políticos brasileiros com uma só palavra. Interessante essa colocação. Quinta: o que significa, para você, a política? E, por último: como resolver os problemas de uma nação, sem recorrer à política?
Senhor Presidente, eu já recebi várias respostas a essas perguntas. Vou reservar uma fala, ao longo desta semana, para apresentar as opiniões das mulheres, pelo menos nesse universo que consegui pesquisar.

Muito obrigado!