terça-feira, 5 de janeiro de 2016

1ª Parte do Grande Expediente 06/08/2015 Discurso 55ª Sessão

1ª Parte do Grande Expediente
06/08/2015

Discurso

55ª Sessão
Senhor Presidente, senhores vereadores, senhoras e senhores, trazemos hoje um tema extremamente importante: a relação entre a violência nas escolas e no entorno delas, e a interferência no aprendizado das crianças e dos adolescentes.
No dia 20 de julho, a matéria saiu nos grandes jornais com o seguinte título:
“Violência deixa 16 mil estudantes sem aulas em apenas 15 dias no Rio. Em julho, troca de tiros suspendeu aulas na Maré, Chapadão e Antares.”
Essa matéria tratou dessas regiões. Mas, como sabemos, isso está acontecendo em grande parte da Zona Oeste e da Zona Norte do Rio de Janeiro: “Docentes dizem que operações não deveriam ocorrer no horário escolar.”
E aqui temos alguns depoimentos:
“Caveirão no portão de entrada, armas escondidas na quadra e policiais nos pátios fazem parte da rotina dos alunos da rede pública de ensino do Rio de Janeiro. Apenas nos primeiros 15 dias do mês de julho, a violência na cidade deixou, pelo menos, 16.853 alunos fora das salas de aula por, no mínimo, um dia.
As escolas afetadas ficam em áreas nas quais houve confronto entre policiais e bandidos: Maré e Favela do Chapadão (Costa Barros), na Zona Norte, e nas comunidades do Rola e Antares (Santa Cruz), na Zona Oeste.
‘Nos dias 30, 1°, 2 e 3 não tivemos aula. Semana passada também perdemos dois dias de aula e esta semana tivemos apenas meio período. É sempre uma situação de muita instabilidade para quem está na escola’, afirmou uma professora do Ciep Elis Regina, que fica no conjunto de favelas da Maré, que está ocupado desde o dia 30 de junho pela PM para a instalação da Unidade de Polícia Pacificadora.
Para professores de escolas situadas em área de risco, as operações policiais não poderiam ocorrer durante o horário escolar. Mas, quando fosse inevitável, deveria haver um entendimento entre as secretarias e governos para que as escolas fossem avisadas e as aulas previamente suspensas.
‘Já peguei situações na minha escola do Caveirão parado na porta trocando tiros e a aula acontecendo’, ressaltou a professora.
Desde o início do mês, quando aconteceu a troca das tropas do Exército por PMs que vão atuar nas UPP da Maré, os moradores têm sofrido com intensos tiroteios. Apenas no dia 1° de julho, 7.008 alunos da rede municipal e outros 700 da estadual não tiveram aulas. Em 14 de julho, durante um confronto, onde uma mulher morreu e uma professora foi baleada, 5.645 alunos de oito escolas, três creches e dois espaços de Desenvolvimento Infantil (EDI) não tiveram aula. No dia 6 de julho, 3.000 alunos da rede municipal e 500 da rede estadual nas comunidades do Rola e Antares foram afetados.
Em Santa Cruz, alunos e professores também enfrentam problemas sérios. Traficantes invadiram a quadra do Ciep Primeiro de Maio, que fica entre as comunidades do Rola e Antares, e fizeram buracos no muro para colocarem suas armas e assim se protegerem durante confrontos com criminosos rivais ou policiais. ‘Eles ficam ali de vigia. A direção da escola já tentou fechar os buracos diversas vezes, mas nunca conseguiu, pois eles mandam parar de colocar o tijolo e abrem novamente lugares onde foram feitos reparos no muro’, contou uma docente da unidade.
Segundo os professores, quando o tiroteio começa, os alunos são levados para os corredores e, de acordo com eles, em um mesmo dia a aula chega a ser interrompida diversas vezes. ‘Os tiros param e recomeçam o tempo todo. Às vezes, mal começamos a escrever no quadro e precisamos sair da sala com as crianças novamente. Fico no corredor tentando distraí-los e tranquiliza-los’, revela uma professora.
A atual base da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Nova Brasília, no conjunto de favelas do Alemão, na Zona Norte, está sediada no pátio do colégio estadual Teófilo de Souza Pinto. A unidade foi inaugurada em 2012 e, desde então, a evasão escolar aumentou muito. Quando a UPP foi inaugurada, cerca de 1.400 alunos estavam matriculados na unidade escolar. Atualmente apenas 700 jovens continuam na escola.
De acordo com o Sindicato dos Professores do Rio (Sepe), diversas audiências públicas já foram solicitadas à Câmara para tratar da situação de vulnerabilidade e interferência da violência no aprendizado dos alunos, mas o pedido nunca foi aceito. ‘Um aluno que teve uma noite de sono tranquila vai ter um rendimento bem diferente daquele em que passou a noite ouvindo tiroteio. Mas essas questões nunca são levadas em consideração. A única alternativa que o governo apresenta é: ‘Se quiser, fecha a escola”, afirmou Susana Gutierrez, diretora do Sepe.
Segundo o Sepe, na rede estadual não há ato normativo algum que dê tratamento à questão do funcionamento das unidades escolares durante uma situação de conflito armado. Já na rede municipal há um regimento escolar que orienta o que deve ser feito na unidade escolar em situações de risco. A Secretaria Municipal de Educação destacou que cabe à direção da escola decidir sobre o funcionamento ou não da unidade durante os confrontos armados.
“O problema é que isso é uma autonomia perversa, pois muitas vezes a direção fecha a unidade mesmo quando não há um conflito armado. Então, você é culpabilizado, porque perdeu um dia de aula a troco de nada. Outras vezes, se a direção abre unidade, acontece o conflito armado e todos ficam em situação de risco”, disse Susana, destacando que as secretarias de Educação e de Segurança deveriam definir entre elas se há ou não condições de haver aula na região durante os momentos de conflito armado.”
Para garantir o direito da criança à educação, conforme dispõe o art. 227 da Constituição, e como Vice-Presidente da Comissão da Criança e do Adolescente, vou propor, na próxima segunda-feira, dia 10 de agosto de 2015, na reunião ordinária da comissão, que seja convocada uma audiência pública para tratar desse tema, pois os prejuízos são gritantes para professores e alunos.
Para encerrar, eu gostaria de registrar, Senhor Presidente, que a situação não é diferente para as escolas, como eu disse, que estão nessas áreas de risco. Nós temos recebido, através das redes sociais, por telefone e até pelo nosso gabinete itinerante, muitas reclamações, em razão da insegurança que existe no Estado do Rio de Janeiro, especialmente, repito, nas Zonas Norte e Oeste.
Recebi, hoje, alguns vídeos da comunidade do Jordão, na Taquara. Vídeos aterradores! É para se ficar dizendo: Quem manda naquelas áreas é a bandidagem. Nenhum morador do Jordão pode sair ou entrar em paz. Isso ao meio-dia, às 8 horas.
No primeiro segmento da minha fala, falei sobre a questão dos prejuízos dos alunos em relação aos tiroteios, a essa questão da insegurança nas unidades escolares, das crianças não poderem ir à escola, mas também o trabalhador não está podendo sair e retornar a casa. Eu quero, aqui, protestar contra a política de segurança do Rio de Janeiro, especialmente apontando para as áreas onde moro e atuo. Na comunidade do Jordão está havendo um absurdo. Hoje! E também na Praça Seca, a partir de 14 horas, as pessoas não têm paz. Há que haver uma tomada de posição da sociedade, uma pressão sobre o Governo do Estado. Aliás, eu estou estranhando, porque o Senhor Beltrame desapareceu. O Senhor Beltrame desapareceu! Que essas questões sejam levadas a termo, é fundamental terminar isso aí, porque os bandidos estão tomando conta da Zona Oeste e da Zona Norte.
Eu quero reiterar: coitados dos moradores do Jordão, na Taquara!

Muito obrigado!