1ª Parte do Grande Expediente
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24/06/2015
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Discurso
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50ª Sessão
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Senhor Presidente, senhores vereadores, senhoras e
senhores:
Eu hoje subo a esta tribuna para fugir à minha
rotina e com o objetivo de restabelecer a verdade dos fatos com relação ao meu
discurso de ontem. Houve um grave equívoco que eu preciso retificar. O Vereador
Alexandre Isquierdo é uma pessoa tranquila, equilibrada, e tendo em vista os
quase cinco meses que estou aqui e convivo com ele, parece-me uma pessoa ponderada
que merece todo o meu respeito. Mas, sinceramente, tenho a impressão de que ele
não ouviu o meu discurso e cometeu uma injustiça em relação a mim e ao meu
discurso, ao tecer comentários que eu gostaria de abordar. Trouxe aqui o Diário
da Câmara Municipal publicado hoje e que tem a íntegra do meu discurso. Ainda
ontem à noite tive o cuidado de ler, porque eu poderia cometer erros, mas li e
reli e não observei nenhum deslize meu, considerando o que foi comentado aqui
pelo nobre Vereador, que considero bastante equilibrado. Sinceramente, foi uma
surpresa para mim a reação do Vereador Alexandre Isquierdo. Peguei alguns
trechos para comentar. Disse o nobre e tranquilo Vereador: “Dizer, porque foram
citados os nomes de alguns pastores de igrejas evangélicas nesta tribuna hoje,
que repudiamos qualquer tipo de intolerância religiosa, qualquer tipo de
crime”. Isso é trecho retirado da internet que está no DCM. E eu quero comentar
esse trecho dizendo o seguinte: não é verdade! Citamos apenas o Senhor Silas
Malafaia no que tange ao seu bate-boca com o jornalista Ricardo Boechat. Porque
o Senhor Silas Malafaia é, na verdade, embora um líder religioso, um
comunicador. Ambos são brilhantes oradores, e ambos são capazes de convencer. A
nossa preocupação repousa exatamente aí, ambos têm uma oratória muito forte,
ambos são convincentes no discurso que eles trouxeram para mídia. O Vereador
comentou que apenas li. Não, isso se tornou de domínio público, a discussão
entre os dois foi uma discussão muito forte e incitadora, sim, de rivalidade. O
que não é bom para nenhum de nós, para os 51 Vereadores aqui, que defendemos a
laicidade do país. Portanto, não é verdade, em momento nenhum fizemos
referência a qualquer igreja que seja. Se vocês pegarem o nosso discurso, não
constatarão, em nenhum momento, referência a qualquer igreja, nem a palavra
“igreja” aparece.
O segundo trecho do nobre Vereador, diz assim;
“Desafio o Vereador Célio Lupparelli, que usou desta tribuna e caiu na
esparrela do jornalista Boechat em afirmar que igrejas
neopentecostais incitam seus membros à intolerância religiosa. Eu desafio”.
Vereador, com todo respeito, o senhor é uma pessoa
equilibrada e não precisa me desafiar, porque não é verdade. Em nenhum momento
eu citei igreja nenhuma. É só ler o meu discurso e, inclusive, se quiser,
acompanhar a minha história. Nenhuma igreja, de nenhum credo. Basta ler o meu
discurso publicado, que está aqui no DCM, para constatar isso aí: o que fiz,
repito, foi um comentário em relação ao que saiu na mídia, que é de domínio
público.
Vou ler o trecho: “Em nome de Deus, pastor e
jornalista trocam ofensas”. Não falei de igreja: “pastor e jornalista trocam
ofensas”. É domínio público: “Ricardo Boechat xingou Silas Malafaia de
otário”. Eu não estou defendendo Ricardo Boechat. Estou achando até isso
incoerente, incongruente, xingar de otário, palavra chula. Eu disse isso aqui
ontem.
“O religioso revidou e acusou-o de
covarde”. Também eu condenei. Quem estava aqui presente, que ouviu, ou dos
gabinetes, tem consciência do que eu falei.
“Disse Ricardo Boechat: ‘Você é um tomador de
grana. Você e outros muitos. Não tenho medo de você, seu otário! Vai procurar
uma rola!’”
Repetindo em português claro: isso eu li, porque
eles disseram. Quem disse isso foi o Senhor Ricardo Boechat, ofendendo, e eu
condenei essa ofensa. Eu condenei a ofensa. Acho que isso incita e não traz
nada de construtivo para a liberdade de religião, que é tão sagrada no Brasil.
E disse mais, eu: “A gente fez questão de trazer
esse noticiário que está aqui. No momento em que um jornalista do porte do
Senhor Ricardo Boechat” — olhem bem! — “e um líder religioso da importância do
Senhor Silas Malafaia trazem, portanto, para contenda um tema religioso com
essa descortesia tão grave, a gente não pode esperar que os fiéis a ele
subordinados e os ouvintes do Senhor Ricardo Boechat tenham equilíbrio”.
Portanto, eu estava condenando os dois, pela fala
dos dois, pelo mau procedimento dos dois. Não ataquei ninguém.
“Então, é uma coisa muito séria, quando ganha essas
proporções: intolerância para o Senhor Ricardo Boechat e para o Senhor Silas
Malafaia”. Está publicado isso, gente. Quando foi, em que momento fizemos aqui
ofensa? Até porque não é do nosso princípio, nós defendemos a laicidade.
Disse o nosso nobre, equilibrado, tranquilo, a quem
respeito muito, sinceramente, gosto muito dele, embora em somente cinco meses
de contato, tempo em que aprendi a respeitá-lo: “Então, fazer disto um ato
político, a discussão do pastor Silas Malafaia com Boechat, para mim é
oportunismo, Vereador Célio Lupparelli. O senhor está falando de uma coisa que
o senhor não conhece”.
Vou conhecer o quê? Todo mundo conhece o fato de os
dois terem se ofendido. Todo mundo conhece que os dois são pessoas notáveis na
nossa cidade e no país. Todo mundo sabe que são de oratória muito forte e
influem muito. Por isso é perigoso. Quanto mais influente uma pessoa, mais
perigosas as suas declarações, se elas forem maléficas.
Então, eu digo: Vereador, a discussão existiu e se
tornou ato público. Não há o que esconder. Essa discussão não tem como se
esconder. Não foi uma coisa escondida, portanto. O meu discurso foi um
chamamento à responsabilidade que esses comunicadores de massa têm com o povo.
Nosso discurso começou mostrando dois fatos
públicos de intolerância, que estão sendo investigados pela polícia, sim. Em
seguida, mostramos a manchete que repercutiu no bate-boca entre o Senhor
Ricardo Boechat com o Senhor Silas Malafaia e que consideramos perigoso e de
baixo nível. Condenamos a atitude de ambos.
Prosseguimos falando da importância do laicismo no
Brasil. Trouxemos a público a Lei 9.459, de 15 de maio de 1997, que considera
crime a prática de discriminação ou preconceito contra as
religiões. Todas. Todas as religiões! Portanto, não atacamos. Defendemos todas
as religiões. Lemos os artigos, sempre chamando a atenção dos dois senhores
citados, para que tivessem cuidado com o que estavam fazendo. Depois da
legalidade, fomos para a constitucionalidade, citando o Artigo 5º, inciso VI,
reforçando a liberdade de consciência e de crença. Enriquecemos a nossa fala,
trazendo a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que em seu Artigo 18
protege a liberdade de pensamento, de consciência e de religião. Gente, nós
levamos nosso discurso ao alto nível, e não a coisas pequenas de brigas, que já
estamos cansados de condenar. Encerramos, enaltecendo a pluralidade de raças,
culturas e religiões, o que torna o Brasil um país que se caracteriza pela
convivência entre os diferentes. E que isso serve, e servirá sempre, de exemplo
para o mundo. Onde está o nosso erro?
Encerramos, Senhor Presidente, por favor me
permita, dando o seguinte resumo: eu apresentei reportagens que foram manchete
de jornais, dos dias 16, 18 e 20 de junho, que abordaram a intolerância
religiosa, ponto 1. Ponto 2: mostrei o baixo nível do bate-boca do Senhor
Ricardo Boechat com o Senhor Silas Malafaia sem ter defendido nenhum dos dois,
pelo contrário, condenamos os dois. Apelei para que ambos tivessem cuidado com
suas declarações porque eles têm seguidores, já que, inegavelmente, são pessoas
de discurso convincente. Ponto 3: insisti na importância de se manter no Brasil
a diversidade religiosa, uma característica que serve de exemplo para o mundo.
Ponto 4: trouxe um discurso pela laicidade, além da disciplina, o respeito à
diversidade religiosa, a Carta Universal dos Direitos Humanos e a Constituição
Brasileira. Portanto, antes de ser condenado, esse meu discurso deveria servir
para estudo, e não para condenação. Para estudo. Porque ele é rico de conteúdo.
Muito obrigado.