terça-feira, 5 de janeiro de 2016

1ª Parte do Grande Expediente 24/06/2015 Discurso 50ª Sessão

1ª Parte do Grande Expediente
24/06/2015

Discurso
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50ª Sessão

Senhor Presidente, senhores vereadores, senhoras e senhores:
Eu hoje subo a esta tribuna para fugir à minha rotina e com o objetivo de restabelecer a verdade dos fatos com relação ao meu discurso de ontem. Houve um grave equívoco que eu preciso retificar. O Vereador Alexandre Isquierdo é uma pessoa tranquila, equilibrada, e tendo em vista os quase cinco meses que estou aqui e convivo com ele, parece-me uma pessoa ponderada que merece todo o meu respeito. Mas, sinceramente, tenho a impressão de que ele não ouviu o meu discurso e cometeu uma injustiça em relação a mim e ao meu discurso, ao tecer comentários que eu gostaria de abordar. Trouxe aqui o Diário da Câmara Municipal publicado hoje e que tem a íntegra do meu discurso. Ainda ontem à noite tive o cuidado de ler, porque eu poderia cometer erros, mas li e reli e não observei nenhum deslize meu, considerando o que foi comentado aqui pelo nobre Vereador, que considero bastante equilibrado. Sinceramente, foi uma surpresa para mim a reação do Vereador Alexandre Isquierdo. Peguei alguns trechos para comentar. Disse o nobre e tranquilo Vereador: “Dizer, porque foram citados os nomes de alguns pastores de igrejas evangélicas nesta tribuna hoje, que repudiamos qualquer tipo de intolerância religiosa, qualquer tipo de crime”. Isso é trecho retirado da internet que está no DCM. E eu quero comentar esse trecho dizendo o seguinte: não é verdade! Citamos apenas o Senhor Silas Malafaia no que tange ao seu bate-boca com o jornalista Ricardo Boechat. Porque o Senhor Silas Malafaia é, na verdade, embora um líder religioso, um comunicador. Ambos são brilhantes oradores, e ambos são capazes de convencer. A nossa preocupação repousa exatamente aí, ambos têm uma oratória muito forte, ambos são convincentes no discurso que eles trouxeram para mídia. O Vereador comentou que apenas li. Não, isso se tornou de domínio público, a discussão entre os dois foi uma discussão muito forte e incitadora, sim, de rivalidade. O que não é bom para nenhum de nós, para os 51 Vereadores aqui, que defendemos a laicidade do país. Portanto, não é verdade, em momento nenhum fizemos referência a qualquer igreja que seja. Se vocês pegarem o nosso discurso, não constatarão, em nenhum momento, referência a qualquer igreja, nem a palavra “igreja” aparece.
O segundo trecho do nobre Vereador, diz assim; “Desafio o Vereador Célio Lupparelli, que usou desta tribuna e caiu na esparrela do jornalista Boechat em afirmar que igrejas neopentecostais incitam seus membros à intolerância religiosa. Eu desafio”.
Vereador, com todo respeito, o senhor é uma pessoa equilibrada e não precisa me desafiar, porque não é verdade. Em nenhum momento eu citei igreja nenhuma. É só ler o meu discurso e, inclusive, se quiser, acompanhar a minha história. Nenhuma igreja, de nenhum credo. Basta ler o meu discurso publicado, que está aqui no DCM, para constatar isso aí: o que fiz, repito, foi um comentário em relação ao que saiu na mídia, que é de domínio público.
Vou ler o trecho: “Em nome de Deus, pastor e jornalista trocam ofensas”. Não falei de igreja: “pastor e jornalista trocam ofensas”. É domínio público: “Ricardo Boechat xingou Silas Malafaia de otário”. Eu não estou defendendo Ricardo Boechat. Estou achando até isso incoerente, incongruente, xingar de otário, palavra chula. Eu disse isso aqui ontem.
“O religioso revidou e acusou-o de covarde”. Também eu condenei. Quem estava aqui presente, que ouviu, ou dos gabinetes, tem consciência do que eu falei.
“Disse Ricardo Boechat: ‘Você é um tomador de grana. Você e outros muitos. Não tenho medo de você, seu otário! Vai procurar uma rola!’”
Repetindo em português claro: isso eu li, porque eles disseram. Quem disse isso foi o Senhor Ricardo Boechat, ofendendo, e eu condenei essa ofensa. Eu condenei a ofensa. Acho que isso incita e não traz nada de construtivo para a liberdade de religião, que é tão sagrada no Brasil.
E disse mais, eu: “A gente fez questão de trazer esse noticiário que está aqui. No momento em que um jornalista do porte do Senhor Ricardo Boechat” — olhem bem! — “e um líder religioso da importância do Senhor Silas Malafaia trazem, portanto, para contenda um tema religioso com essa descortesia tão grave, a gente não pode esperar que os fiéis a ele subordinados e os ouvintes do Senhor Ricardo Boechat tenham equilíbrio”.
Portanto, eu estava condenando os dois, pela fala dos dois, pelo mau procedimento dos dois. Não ataquei ninguém.
“Então, é uma coisa muito séria, quando ganha essas proporções: intolerância para o Senhor Ricardo Boechat e para o Senhor Silas Malafaia”. Está publicado isso, gente. Quando foi, em que momento fizemos aqui ofensa? Até porque não é do nosso princípio, nós defendemos a laicidade.
Disse o nosso nobre, equilibrado, tranquilo, a quem respeito muito, sinceramente, gosto muito dele, embora em somente cinco meses de contato, tempo em que aprendi a respeitá-lo: “Então, fazer disto um ato político, a discussão do pastor Silas Malafaia com Boechat, para mim é oportunismo, Vereador Célio Lupparelli. O senhor está falando de uma coisa que o senhor não conhece”.
Vou conhecer o quê? Todo mundo conhece o fato de os dois terem se ofendido. Todo mundo conhece que os dois são pessoas notáveis na nossa cidade e no país. Todo mundo sabe que são de oratória muito forte e influem muito. Por isso é perigoso. Quanto mais influente uma pessoa, mais perigosas as suas declarações, se elas forem maléficas.
Então, eu digo: Vereador, a discussão existiu e se tornou ato público. Não há o que esconder. Essa discussão não tem como se esconder. Não foi uma coisa escondida, portanto. O meu discurso foi um chamamento à responsabilidade que esses comunicadores de massa têm com o povo.
Nosso discurso começou mostrando dois fatos públicos de intolerância, que estão sendo investigados pela polícia, sim. Em seguida, mostramos a manchete que repercutiu no bate-boca entre o Senhor Ricardo Boechat com o Senhor Silas Malafaia e que consideramos perigoso e de baixo nível. Condenamos a atitude de ambos.
Prosseguimos falando da importância do laicismo no Brasil. Trouxemos a público a Lei 9.459, de 15 de maio de 1997, que considera crime a prática de discriminação ou preconceito contra as religiões. Todas. Todas as religiões! Portanto, não atacamos. Defendemos todas as religiões. Lemos os artigos, sempre chamando a atenção dos dois senhores citados, para que tivessem cuidado com o que estavam fazendo. Depois da legalidade, fomos para a constitucionalidade, citando o Artigo 5º, inciso VI, reforçando a liberdade de consciência e de crença. Enriquecemos a nossa fala, trazendo a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que em seu Artigo 18 protege a liberdade de pensamento, de consciência e de religião. Gente, nós levamos nosso discurso ao alto nível, e não a coisas pequenas de brigas, que já estamos cansados de condenar. Encerramos, enaltecendo a pluralidade de raças, culturas e religiões, o que torna o Brasil um país que se caracteriza pela convivência entre os diferentes. E que isso serve, e servirá sempre, de exemplo para o mundo. Onde está o nosso erro?
Encerramos, Senhor Presidente, por favor me permita, dando o seguinte resumo: eu apresentei reportagens que foram manchete de jornais, dos dias 16, 18 e 20 de junho, que abordaram a intolerância religiosa, ponto 1. Ponto 2: mostrei o baixo nível do bate-boca do Senhor Ricardo Boechat com o Senhor Silas Malafaia sem ter defendido nenhum dos dois, pelo contrário, condenamos os dois. Apelei para que ambos tivessem cuidado com suas declarações porque eles têm seguidores, já que, inegavelmente, são pessoas de discurso convincente. Ponto 3: insisti na importância de se manter no Brasil a diversidade religiosa, uma característica que serve de exemplo para o mundo. Ponto 4: trouxe um discurso pela laicidade, além da disciplina, o respeito à diversidade religiosa, a Carta Universal dos Direitos Humanos e a Constituição Brasileira. Portanto, antes de ser condenado, esse meu discurso deveria servir para estudo, e não para condenação. Para estudo. Porque ele é rico de conteúdo.

Muito obrigado.