terça-feira, 5 de janeiro de 2016

1ª Parte do Grande Expediente 12/05/2015 Discurso 32ª Sessão

1ª Parte do Grande Expediente
12/05/2015

Discurso

32ª Sessão
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Senhor Presidente, Senhores Vereadores, Senhoras e Senhores, trouxemos mais uma vez a esta tribuna a questão que vem mexendo com a opinião pública, que é a questão da redução da maioridade penal. Do jornal O Globo, de anteontem, retiramos uma reportagem que achamos interessante para apresentar aos senhores, para se discutir aqui.
“Apreensão de menores no Rio cresce mais que prisão de adultos. Taxa para o mês de março é 3,5 maior que o registrado em 2010.
RIO – No mesmo mês em que deputados da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara aprovaram a proposta de reduzir de 18 para 16 anos a maioridade penal, o Instituto de Segurança Pública do Rio (ISP), órgão que reúne estatísticas de criminalidade, se deparou com um dado que pode esquentar esse debate. Sem alterar um parágrafo da legislação atual, o Estado do Rio de Janeiro bateu o recorde de apreensão de menores para o mês de março. Enquanto em 2010 a taxa girou em torno de um caso para cada 100 mil habitantes, março deste ano apresentou 4,6 registros. Numericamente, parece pouco, mas a evolução no período é expressiva. No comparativo, o dado de 2015 é quase três vezes e meia maior que o identificado em 2010, revelando que no Rio já existe uma maior repressão a atos infracionais cometidos por menores. Embora o total de adultos presos por envolvimento com o crime seja bem maior (3,1 mil contra 768), a variação da taxa de apreensões de jovens supera a dos adultos. Em março de 2010, foram presos quase dez maiores de idade para cada 100 mil habitantes. Passados cinco anos, essa taxa dobrou, chegando a 18,9 casos. O aumento de apreensão de adolescentes pode levar o Rio a superar o total do ano passado. Em 2014, por exemplo, já havia sido identificado um crescimento de 298% no número absoluto de menores apreendidos, na comparação com 2010. Atualmente, cerca de 1,9 mil cumprem medidas socioeducativas no Departamento Geral de Ações Socioeducativas do Rio (Degase), 839 acima da capacidade do sistema.”
Vejam bem: se aprovada no Congresso Nacional, a proposta de redução da maioridade penal, que tramita há 22 anos em Brasília, prevê que jovens acima de 16 anos envolvidos em crimes sejam encaminhados para presídios comuns e não mais para o sistema socioeducativo.
Somos contra a medida, pois alegamos que ela contraria a Constituição, além de permitir que os jovens sejam mandados para as prisões comuns, hoje consideradas por todos da sociedade como escolas de pós-graduação do crime.
Aí vem um quadro interessante que mostra a hipocrisia dessa discussão, principalmente no que tange a quem defende essa prática de redução da maior idade penal. Se estudarmos corretamente a questão, veremos que grande culpa desse processo vem da sociedade.
Tenho aqui um levantamento do Degase. Mas, antes de citar o Degase, eu gostaria de apresentar a vocês a fala do Secretário Beltrame. Ele diz que a sociedade precisa refletir sobre a questão dos menores. O aumento das apreensões de menores pode ser um reflexo do subjetivismo da legislação, ou seja, a forma subjetiva que abre espaços para diversas interpretações por parte das instituições que trabalham nessa questão. E, continua o Senhor Secretário Beltrame: “A falta de controle dos responsáveis que não sabem onde seus filhos estão ou o que estão fazendo”. E remata o Senhor Beltrame: “O atual modelo do consumismo a que esses menores são expostos são questões relevantes e, talvez, a causa dessa situação de delinquência dos menores”.
Agora, vou trazer o que eu iria dizer antes a respeito dos dados do Degase. A maioria dos jovens apreendidos em 2014 tinha entre 16 e 18 anos. A baixa escolaridade é outra marca dos jovens que estão no Degase. Cerca de 33% têm apenas o fundamental incompleto. A radiografia feita pelo Degase mostra também o tipo de ato infracional imputado aos menores. Entre aqueles que cumprem medida socioeducativa, 41% foram levados para o sistema por envolvimento com o tráfico de drogas, 27% por roubo e 13% por furto. Apenas 1,24% está no Degase por participação em homicídios.
O grande motivo dessa discussão é 1,24%! Ora, faça-me o favor! A sociedade tem que enfrentar os problemas que são: crianças e adolescentes estão fora da escola. A evasão escolar é uma verdade pelo País afora. Os dados do Degase confirmam isso, não somos nós que os estamos trazendo aleatoriamente; são dados oficiais. Crianças e adolescentes fora da escola.
A sociedade tem que encarar isso, e não discutir redução de maior idade penal. A ausência de acompanhamento da família por motivos socioeconômicos é fator importante na combinação desses dados. Sabemos que o modelo econômico leva a família a ficar desestruturada. Se não for o único, é um dos principais fatores. A sociedade é omissa! Não temos a coragem de enfrentar o problema, de cobrar dos governantes ações para botar a criança na escola. O tráfico cresce e faz a cooptação dessas crianças e jovens – isso é uma coisa que todo o mundo sabe. A discussão não vai por aí, não querem levar a discussão para esse lado.
Outra questão. Uma criança ou um adolescente que conclui o ensino fundamental não tem perspectiva alguma! Não há entrosamento ou relação entre a educação e o emprego. Quer dizer, a criança sai da escola e vai para onde? Então, ela tem que ir para algum lugar que lhe ofereça condições financeiras e, evidentemente, o tráfico está aí, pronto para isso.
Nós sempre estamos aqui a defender a criação da Secretaria Municipal e pedimos ao nosso querido Prefeito que observe isso com carinho e, se não for agora, que a sociedade discuta isso para o futuro. Se não for ainda nesse mandato do atual Prefeito, que para o futuro isso seja discutido, porque a gente não pode se deparar ainda com situações como essa aqui, por exemplo: “Homem mantinha filha de seis anos presa em gaiola de ferro”. “Criança era torturada com choques elétricos”. Ainda tem outro caso importante: “Guardiães de anjo no chapéu”. “Ser mãe é padecer no paraíso”. O que é isso aqui? Mães que fundaram uma ONG, por iniciativa delas, para tratar de crianças portadoras de deficiência, e são discriminadas nas escolas e pela sociedade como um todo.
A gente tem que encarar isso aqui como realidade. Não é possível que a gente tenha os Conselhos Tutelares subordinados — para concluir, Senhor Presidente — à Secretaria de Desenvolvimento Social, que faz um bom trabalho, não estou discutindo isso, mas ela tem que tratar de atividades amplas; ela não trata só da criança e do adolescente; trata de gente de ma maneira geral, de população de rua, enfim, sem terra, sem teto. São muitos problemas que a Secretaria, a SMDS tem para tratar, e a criança fica apenas com os Conselhos Tutelares, que não têm autonomia — nem financeira, nem administrativa — para poder realmente atuar com o que a criança e o adolescente precisam.
Portanto, a gente vai continuar lutando para sensibilizar a sociedade. Ainda que não seja neste mandato do atual Prefeito, mas que o próximo pense com carinho, e a sociedade pense em tratar nossa criança como deve tratar, e não se pensar em reduzir a maioridade penal.

Muito obrigado!