Após a confirmação da morte do menino Juan Moraes, de 11 anos, integrantes da ONG Rio de Paz estenderam uma faixa, na noite desta quarta-feira (6), em frente ao Theatro Municipal do Rio de Janeiro, na Cinelândia, no Centro. Segundo a organização, com a pergunta “Quem matou Juan?”, o grupo convocou a população para pedir a solução do caso.
De acordo com a ONG Rio de Paz, o objetivo é combater a impunidade e acabar com a prática de execução seguida de ocultação de cadáver. Além do Theatro Municipal, o protesto também aconteceu no Engenhão, no subúrbio, durante a partida entre Flamengo e São Paulo, pelo Campeonato Brasileiro.
No domingo (3), a ONG lançou uma campanha virtual para saber o paradeiro do menino Juan, que havia desapareceu após um tiroteio na Favela Danon, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, no último dia 20. O grupo percorreu diversos pontos do Rio, convocando a população para registrar uma foto ao lado da faixa.
Mais cedo, em entrevista coletiva, a chefe de Polícia Civil do Rio, Martha Rocha, informou que o corpo encontrado na semana passada que havia sido identificado como de uma menina, era, na verdade, o de Juan. Ele estava desaparecido desde 20 de junho, após uma operação do 20º BPM (Mesquita), na Favela Danon, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.
"É com pesar que a Polícia Civil comunica oficialmente a morte do menino Juan Moraes. Eu queria ter dado essa notícia pessoalmente à família. Entretanto a família ingressou num programa de proteção e nós, então, comunicamos a morte do menino à Secretaria de Direitos Humanos, que vai adotar as providências no sentido de comunicar à família", disse ela.
Em nota, a Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos (SEASDH) informou que está prestando "toda a assistência necessária à família de Juan Moraes". Estou chocado. Não consigo nem ficar em pé direito", disse ao G1 Alexandre da Silva Neves, pai de Juan, após receber da polícia a confirmação da morte. "Antes de enterrar, queria fazer a perícia no Juan", completou, acrescentando que recebeu a notícia no início da tarde, por telefone.
De acordo com Neves, o corpo do menino Juan - que ainda não foi liberado do Instituto Médico Legal (IML) do Rio - será sepultado na manhã de sexta-feira (8) em um cemitério da Baixada Fluminense.
A mãe e o irmão de Juan, Wesley, de 14 anos, que estão no programa de proteção à testemunha, vêm ao Rio para acompanhar o sepultamento da criança, ainda segundo Neves.
A confirmação veio através de dois exames de DNA e o material coletado para a identificação do corpo de Juan veio da tira da sandália usada pelo menino quando ele desapareceu, de acordo com o diretor de polícia técnica, Sérgio Henriques. "Houve um erro de precipitação da perita, e ela vai responder a uma sindicância," explicou sobre o erro na identificação do sexo do corpo.
Ainda de acordo com Henriques, no estado de decomposição em que estava o corpo encontrado era difícil atestar o sexo da criança sem o teste de DNA. "A determinação do sexo a partir da ossada é mais fácil em adultos, já que as caraterísticas são bem mais ressaltadas do que numa criança ou adolescente", disse Henriques, acrescentando que o laudo não indica qual a causa morte de Juan.
Segundo Martha Rocha, com a confirmação de que o corpo encontrado na semana passada é do menino Juan, serão instaurados dois procedimentos. "Um para analisar o laudo e o parecer emitido pela perita, já que o serviço de antropologia forense do (Instituto) Médico Legal e o exame de DNA dão resultados diferentes ao resultado inicialmente apresentado por ela", afirmou a delegada.
"E também um procedimento para avaliar as providências que foram adotadas ou que deveriam ter sido adotadas pela 56ª DP, uma vez que o exame procedido no local onde se deu o confronto entre policiais militares e as pessoas por eles apontadas foi encontrado um chinelo. E esse chinelo, na coleta de material genético também positivou como sendo do menino Juan", completou.
A chefe de Polícia Civil também afirmou que o delegado Claudio Nascimento de Souza não é mais o titular da 56ª DP (Comendador Soares) e que seu substituto será indicado nos próximos dias. O desaparecimento do menino Juan começou a ser investigado pela 56ª DP, mas depois o caso foi transferido para a Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense.
Já segundo o titular da Divisão de Homicídios da Baixada, Ricardo Barbosa, uma reconstituição está marcada para sexta-feira (8) e contará com a participação dos quatro policiais militares afastados nesta quarta pelo comandante-geral da PM, Mário Sérgio Duarte. "Há provas testemunhais de que Juan foi atingido no beco e que teria sido atingido no pescoço", afirmou.
A polícia afirmou ainda que já tem o resultado da perícia das armas dos policiais que atuaram no confronto, assim como os dados do GPS das cinco viaturas que estiveram na comunidade Danon.
O depoimento dos 11 policiais militares sobre o desaparecimento do menino Juan durou 13 horas e foi concluído por volta das 2h desta quarta-feira (6), na Divisão de Homicídios (DH) da Baixada Fluminense. Não foi revelado o teor dos depoimentos, mas, desde o começo do caso, os PMs garantem que não viram o menino em nenhum momento no tiroteio.
Além dos quatro policiais que disseram ter participado do confronto contra traficantes na favela, outros sete policiais, que estavam num raio de dois quilômetros do local também foram ouvidos.
Dos quatro PMs que foram afastados das ruas, dois já estiveram envolvidos em situações em que o suspeito é morto em confronto com a polícia. Um cabo esteve envolvido em autos de resistência oito vezes e o outro 13 vezes.
Juan, o irmão dele, Wesley, de 14 anos, e o jovem Wanderson dos Santos de Assis, de 19, foram baleados durante a troca de tiros. Juan vinha da casa de um amigo com o irmão quando ocorreu o confronto. A caminho de casa, os meninos precisavam cruzar um caminho entre os muros altos de duas casas, quando foram atingidos. Fonte : Globo
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