Em licitação do VLT de Cuiabá, governo contrata 2ª proposta mais cara e gasta R$ 7 mi a mais
Projeto de linha férrea de 22 quilômetros em Cuiabá tem custo estimado em R$ 1,5 bilhão
Utilizando as regras mais flexíveis para licitações da Copa do Mundo de 2014, o Governo do Estado de Mato Grosso escolheu a segunda proposta mais cara em cinco disponíveis para fazer a supervisão das obras do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) em Cuiabá. Se for confirmada a contratação, o Estado pagará R$ 47 milhões às construtoras Planiserv e Sondotécnica pelo serviço, R$ 7 milhões a mais do que a menor oferta feita na concorrência.
Vencedor de licitação do VLT de Cuiabá era conhecido um mês antes do resultado.
A licitação para definir o consórcio construtor do VLT de Cuiabá, atualmente orçado em R$ 1,47 bilhão, tinha o seu vencedor conhecido pelo menos um mês antes da entrega das propostas dos consórcios concorrentes e da abertura dos envelopes. No dia 18 de abril deste ano, uma mensagem cifrada publicada no jornal Diário de Cuiabá revelou que o Consórcio VLT Cuiabá sairia vencedor do certame.
"Pagaram R$ 80 mi em propina para vencer a licitação", disse assessor do governo de MT. A novela do VLT bilionário sob suspeita . MP vê "promiscuidade" no governo de MT e vai interrogar assessor e secretário de Copa . Após reportagem do UOL, assessor do governo de MT que denunciou propina é exonerado .Empreiteira do VLT de Cuiabá tem R$ 6,3 mi penhorados e falência pedida na Justiça
A construção do VLT na cidade do Centro-Oeste já está cercada de suspeita. O UOL Esporte mostrou que o consórcio vencedor da licitação para a obra principal já era conhecido antes do final do processo e que há uma denúncia de propina de R$ 80 milhões. Investigada por MPF (Ministério Público Federal), MP-MT (Ministério Público de Mato Grosso) e Polícia Civil do Estado, a obra está orçada em R$ 1,47 bilhão. Seu custo vai ultrapassar R$ 1,5 bilhão com a nova contratação, quase o triplo da Arena Pantanal, estádio que está sendo construído para a Copa na capital matogrossense.
Em agosto deste ano, o Estado de Mato Grosso abriu uma licitação para supervisão e gerenciamento dos projetos e da execução das obras; obtenção de licenças ambientais; fornecimento e montagem de sistema de corredores de transporte em Cuiabá.
O edital adotou o RDC (Regime Diferenciado de Contratação), que flexibiliza regras de concorrência pública para obras da Copa de 2014. Por esse sistema, o resultado da licitação não é determinado apenas pelo fator preço, e sim por meio de um cálculo que leva em conta o valor proposto e critérios técnicos das empresas concorrentes. Neste caso, o Estado preferiu dar peso de 70% para a nota técnica e peso de 30% para o preço. Pelo RDC, 70% é o percentual máximo a ser atribuído como peso a um dos dois critérios.
Já pela Lei 8.666/93, que rege as licitações regulares, as regras são diferentes. O peso entre os dois critérios tem que ser igual. Só é possível atribuir uma diferença quando houver uma justificativa para essa opção. Ainda há uma recomendação do TCU (Tribunal de Contas da União) para evitar grandes diferenças entre as notas.
Na licitação recém finalizada em Cuiabá, as notas de preço renderam uma diferença de dez pontos em favor do concorrente que ofereceu o custo mais baixo, de R$ 40 milhões, contra o grupo que saiu vencedor, Planiserv-Sondotécnica, que ofereceu fazer o serviço por R$ 47 milhões.
O que garantiu a vitória do consórcio foi sua nota técnica, 15 pontos superior à do dono do projeto mais barato, o grupo liderado pela Concremat. “Esse modal [VLT] demanda o que existe de melhor e mais atualizado em sofisticação tecnológica, seja construtiva, sejam em equipamentos e seus apêndices”, explicou a assessoria da Secretaria Extraordinária da Copa de Mato Grosso. “Com essa base legal [RDC], essa administração optou pelo índice máximo por considerar como fator mais importante a técnica em relação ao preço.”
Nem a Secopa, nem o consórcio Planiserv-Sondotécnica - que foi procurado pela reportagem, mas preferiu não responder às perguntas enviadas - explicaram quais foram os critérios técnicos que garantiram a vantagem do vencedor sobre a Concremat, que é a empresa vencedora das licitações (via Lei 8666) para gerenciar as obras do Estádio Nacional de Brasília (DF) e da Arena Pantanal, em Cuiabá. Os valores pelos trabalhos são, respectivamente, R$ 12 milhões e R$ 10,7 milhões.
A Secretaria ainda afirmou que havia “um tempo exíguo” para contratação e, por isso, utilizou a legislação especial para a Copa. De fato, a obra, que já está atrasada em mais de um ano de acordo com o plano original das autoridades brasileiras, de janeiro de 2010, corre contra o relógio, e será difícil que seja completada antes do Mundial.
Por contrato, o consórcio que constrói o VLT deverá entregar a obra 24 meses após a assinatura da OS 1 (Ordem de Serviço), o que aconteceu no dia 21 de junho deste ano. Considerando que a cidade receberá quatro jogos da Copa, nos dias 13, 17, 21 e 24 de junho de 2014, constata-se que, ainda que a obra não atrase mais nenhum dia, não estará pronta para servir a turistas e população durante toda a Copa. Por suspeitas de fraudes e irregularidades, a Justiça Federal já paralisou a obra por duas vezes, e as investigações continuam.
A contratação do Consórcio Planiserv-Sondotécnica ainda não está fechada. O processo licitatório está em fase de recursos, como ressaltou o Governo de Mato Grosso. Mas, a não ser que exista uma alteração grande nas notas, as duas empresas serão homologadas como vencedoras da licitação.
O Estado de Mato Grosso e a prefeitura de Cuiabá assinaram a Matriz de Responsabilidades da Copa, junto com todas as cidades e estados-sedes do Mundial de 2014. No documento, o governo de Mato Grosso se compromete a construir um sistema de BRT (corredores exclusivos de ônibus articulados) e um custo de R$ 489 milhões, dos quais R$ 455 milhões viriam de financiamento federal.
Projeto de linha férrea de 22 quilômetros em Cuiabá tem custo estimado em R$ 1,5 bilhão
Utilizando as regras mais flexíveis para licitações da Copa do Mundo de 2014, o Governo do Estado de Mato Grosso escolheu a segunda proposta mais cara em cinco disponíveis para fazer a supervisão das obras do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) em Cuiabá. Se for confirmada a contratação, o Estado pagará R$ 47 milhões às construtoras Planiserv e Sondotécnica pelo serviço, R$ 7 milhões a mais do que a menor oferta feita na concorrência.
Vencedor de licitação do VLT de Cuiabá era conhecido um mês antes do resultado.
A licitação para definir o consórcio construtor do VLT de Cuiabá, atualmente orçado em R$ 1,47 bilhão, tinha o seu vencedor conhecido pelo menos um mês antes da entrega das propostas dos consórcios concorrentes e da abertura dos envelopes. No dia 18 de abril deste ano, uma mensagem cifrada publicada no jornal Diário de Cuiabá revelou que o Consórcio VLT Cuiabá sairia vencedor do certame.
"Pagaram R$ 80 mi em propina para vencer a licitação", disse assessor do governo de MT. A novela do VLT bilionário sob suspeita . MP vê "promiscuidade" no governo de MT e vai interrogar assessor e secretário de Copa . Após reportagem do UOL, assessor do governo de MT que denunciou propina é exonerado .Empreiteira do VLT de Cuiabá tem R$ 6,3 mi penhorados e falência pedida na Justiça
A construção do VLT na cidade do Centro-Oeste já está cercada de suspeita. O UOL Esporte mostrou que o consórcio vencedor da licitação para a obra principal já era conhecido antes do final do processo e que há uma denúncia de propina de R$ 80 milhões. Investigada por MPF (Ministério Público Federal), MP-MT (Ministério Público de Mato Grosso) e Polícia Civil do Estado, a obra está orçada em R$ 1,47 bilhão. Seu custo vai ultrapassar R$ 1,5 bilhão com a nova contratação, quase o triplo da Arena Pantanal, estádio que está sendo construído para a Copa na capital matogrossense.
Em agosto deste ano, o Estado de Mato Grosso abriu uma licitação para supervisão e gerenciamento dos projetos e da execução das obras; obtenção de licenças ambientais; fornecimento e montagem de sistema de corredores de transporte em Cuiabá.
O edital adotou o RDC (Regime Diferenciado de Contratação), que flexibiliza regras de concorrência pública para obras da Copa de 2014. Por esse sistema, o resultado da licitação não é determinado apenas pelo fator preço, e sim por meio de um cálculo que leva em conta o valor proposto e critérios técnicos das empresas concorrentes. Neste caso, o Estado preferiu dar peso de 70% para a nota técnica e peso de 30% para o preço. Pelo RDC, 70% é o percentual máximo a ser atribuído como peso a um dos dois critérios.
Já pela Lei 8.666/93, que rege as licitações regulares, as regras são diferentes. O peso entre os dois critérios tem que ser igual. Só é possível atribuir uma diferença quando houver uma justificativa para essa opção. Ainda há uma recomendação do TCU (Tribunal de Contas da União) para evitar grandes diferenças entre as notas.
Na licitação recém finalizada em Cuiabá, as notas de preço renderam uma diferença de dez pontos em favor do concorrente que ofereceu o custo mais baixo, de R$ 40 milhões, contra o grupo que saiu vencedor, Planiserv-Sondotécnica, que ofereceu fazer o serviço por R$ 47 milhões.
O que garantiu a vitória do consórcio foi sua nota técnica, 15 pontos superior à do dono do projeto mais barato, o grupo liderado pela Concremat. “Esse modal [VLT] demanda o que existe de melhor e mais atualizado em sofisticação tecnológica, seja construtiva, sejam em equipamentos e seus apêndices”, explicou a assessoria da Secretaria Extraordinária da Copa de Mato Grosso. “Com essa base legal [RDC], essa administração optou pelo índice máximo por considerar como fator mais importante a técnica em relação ao preço.”
Nem a Secopa, nem o consórcio Planiserv-Sondotécnica - que foi procurado pela reportagem, mas preferiu não responder às perguntas enviadas - explicaram quais foram os critérios técnicos que garantiram a vantagem do vencedor sobre a Concremat, que é a empresa vencedora das licitações (via Lei 8666) para gerenciar as obras do Estádio Nacional de Brasília (DF) e da Arena Pantanal, em Cuiabá. Os valores pelos trabalhos são, respectivamente, R$ 12 milhões e R$ 10,7 milhões.
A Secretaria ainda afirmou que havia “um tempo exíguo” para contratação e, por isso, utilizou a legislação especial para a Copa. De fato, a obra, que já está atrasada em mais de um ano de acordo com o plano original das autoridades brasileiras, de janeiro de 2010, corre contra o relógio, e será difícil que seja completada antes do Mundial.
Por contrato, o consórcio que constrói o VLT deverá entregar a obra 24 meses após a assinatura da OS 1 (Ordem de Serviço), o que aconteceu no dia 21 de junho deste ano. Considerando que a cidade receberá quatro jogos da Copa, nos dias 13, 17, 21 e 24 de junho de 2014, constata-se que, ainda que a obra não atrase mais nenhum dia, não estará pronta para servir a turistas e população durante toda a Copa. Por suspeitas de fraudes e irregularidades, a Justiça Federal já paralisou a obra por duas vezes, e as investigações continuam.
A contratação do Consórcio Planiserv-Sondotécnica ainda não está fechada. O processo licitatório está em fase de recursos, como ressaltou o Governo de Mato Grosso. Mas, a não ser que exista uma alteração grande nas notas, as duas empresas serão homologadas como vencedoras da licitação.
O Estado de Mato Grosso e a prefeitura de Cuiabá assinaram a Matriz de Responsabilidades da Copa, junto com todas as cidades e estados-sedes do Mundial de 2014. No documento, o governo de Mato Grosso se compromete a construir um sistema de BRT (corredores exclusivos de ônibus articulados) e um custo de R$ 489 milhões, dos quais R$ 455 milhões viriam de financiamento federal.