quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Usuária de crack denuncia venda de drogas perto de abrigo da prefeirtura.

Usuária de crack denuncia venda de drogas perto de abrigo da prefeitura


Em mais uma operação de acolhimento, depoimentos revelam o drama dos viciados

Jornal do BrasilHenrique de Almeida

Durante nova operação da Secretaria Municipal de Assistência Social, realizada na manhã desta quarta-feira no canteiro central da Avenida Brigadeiro Trompowsky - entrada da Ilha do Governador - a reação e os depoimentos de usuários de crack deixaram claro que a estratégia adotada pela Prefeitura ainda está longe de atingir resultados concretos.

Enquanto dezenas deles saíram em disparada, se arriscando entre os carros em plena Avenida Brasil, outros admitiam que não conseguiam abandonar o vício.

“Se é para eu ficar me drogando dentro do abrigo, eu prefiro ficar na rua”Uma das usuárias chegou a afirmar que ao lado do principal abrigo da Prefeitura, em Paciência, há um ponto de venda de drogas, com farta oferta aos usuários. "Se é para eu ficar me drogando dentro do abrigo, eu prefiro ficar na rua”, disse a mulher que se identificou apenas como Maristela e afirmou ter 19 anos.

Maristela, cujos dois filhos que atualmente vivem com a avó, chegou a aceitar ser levada pela Assistência Social. “Quero me livrar desse vício maldito. Quero poder ver meus filhos”, afirmava. Mas, logo depois que o carro da secretaria deixou o local, ela retornou para a cracolândia.

Quando voltou para o canteiro central da Avenida Brigadeiro Trompowski, Maristela acabou se desentendendo com outro dependente, chamado Serginho. A briga teve direito a chutes e lançamento de latas de cerveja, pedras e pedaços de madeira, que só tiveram fim com a intervenção da polícia. Depois que a polícia deixou o local, os dois foram para o interior do parque e continuaram brigando.

Serginho, de 25 anos, também era a imagem de uma vida trágica e sem esperanças. Ele perdeu os braços ‘surfando’ em cima de um trem, e conta que já foi levado para vários abrigos da prefeitura, mas sempre volta para a avenida. “O abrigo funciona, mas só para quem quer se curar. Aqui é bem melhor. Tem as drogas e tal”, argumenta. Ele foi um dos que se recusaram a ser levado para um abrigo e, durante toda a operação da Secretaria, também era visto perambulando pelo Parque União.

Outra usuária, de 23 anos, que não quis se identificar, disse que foi parar na cracolândia recentemente. Segundo ela, mesmo sendo usuária de drogas, ela sempre teve a sua casa e suas posses. Perguntada sobre o motivo de estar na cracolândia atualmente, ela foi misteriosa: “Uma mente vai influenciando a outra e a gente vai se perdendo.”

"A assistência não faz o tratamento”

Sobre a denúncia de Maristela, de que haveria uma “boca de fumo” ao lado de um dos abrigos da prefeitura, a diretora do Serviço de Abordagem Social da Secretaria Municipal de Assistência Social, Daphne Braga, bateu na tecla da farta oferta nas ruas:

“A gente precisa diferenciar uma coisa: a assistência não faz o tratamento. A gente oferece o abrigo. Na rua sempre vai ter a oferta da droga, independentemente se é em Paciência ou se é no Stella Maris (Centro de Acolhimento), na Ilha do Governador. Muitas vezes nós acolhemos esses usuários que não estão preparados para o tratamento”, comentou Daphne.

Em nota, a secretaria diz que "em relação à proximidade de uma boca de fumo, não cabe à Secretaria Municipal de Assistência Social (SMAS) atuar em questões dirigidas aos órgãos de segurança pública, mas encaminhar e promover ações conjuntas a fim de tratar a dependência química dos usuários da rede de proteção social do município"

A nota diz ainda que "no local, os usuários de drogas recebem atendimento social, por meio de assistentes sociais e psicólogos, além de serem avaliados e orientados para o atendimento contra a dependência química nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPs) da Secretaria Municipal de Saúde"

Daphne reconheceu que a Brigadeiro Trompowsky continua e continuará sendo um ponto de migração dos usuários de crack. A dificuldade de acolher os usuários também já foi reconhecida por ela em outras matérias publicadas no Jornal do Brasil:

“A gente busca o atendimento não só pela assistência social, mas é muito difícil. O que nós tentamos primeiro é oferecer o atendimento no local. Caso não seja possível, tentamos tirá-lo da área de conflito. Damos um banho, comida e aí oferecemos tratamento. Estamos buscando a solução”, finalizou a diretora.

Já a subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Estado de Segurança informou que faz o monitoramento constante dos pontos de venda de drogas na cidade do Rio de Janeiro. Todas as denúncias recebidas são investigadas pelas autoridades que têm competência para agir. "Para uma operação policial, muitas vezes, necessitamos de tempo para investigar e planejar, sob pena de não se conseguir provar os delitos e frustrar nossos objetivos. Por este motivo, o detalhamento destas informações seguem sob sigilo", esclareceu a assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança.