Em Acari e Belford Roxo, bancas clandestinas vendem peças de carros sem procedência e freguês pode até fazer encomendas
Quadrilhas especializadas em furtos, roubos e receptação de carros estão diversificando as formas de vender autopeças. Riscadas do mapa há alguns anos, as feiras de peças de carros batizadas de ‘Robauto’, por venderem artigos roubados, voltaram a funcionar a todo vapor em Acari, no Rio, e em Belford Roxo, na Baixada, como na década de 90. Mas, agora, também é possível comprar peças por telefone e pela Internet: são os chamados ‘Disque-Robauto’ e ‘Robautonet’.
Em Acari, ao lado da estação do Metrô, bancos, rodas, pneus, amortecedores, calotas, motores, painéis, faróis e aparelhos de som automotivos são oferecidos no meio da rua ou em calçadas.
No bairro Areia Branca, Belford Roxo, uma feira livre de três quilômetros tem pelo menos um quilômetro ocupado apenas por vendedores ilegais que oferecem produtos visivelmente pouco usados ou novos por menos da metade do preço.
Os vendedores expõem os produtos em lonas ou cadeiras e mesas improvisadas, e observam de longe. Evitam chamar a atenção, como os feirantes de barracas de frutas, verduras e legumes.
Há a possibilidade de encomendar peças de qualquer modelo e marca de veículo. “Se não tiver aqui, é só pedir, que no domingo seguinte a gente traz”, prometeu um ambulante.
Segundo o Instituto de Segurança Pública, o roubo de carros é um dos indicadores de criminalidade que mais preocupam atualmente. Entre janeiro e maio, os bandidos levaram, em todo o estado, 9.702 carros de seus proprietários, média de 65 veículos por dia, representando um crescimento de 28,4% em relação ao mesmo período do ano passado (7.554). A Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA) prometeu intensificar a fiscalização nas feiras livres.
De acordo com o inspetor da DRFA José Carlos Guimarães, a delegacia especializada está iniciando uma devassa nos sites que comercializam peças de carros pela Internet. “Estamos levantando os sites e verificando o conteúdo de cada um. Há endereços eletrônicos muito suspeitos, que prometem entregar as peças na casa do interessado em tempo recorde, sem cobrar frete, mas também sem fornecer nota fiscal. O comprador deve desconfiar. São os chamados ferros-velhos virtuais”, comentou.
No início de junho, quatro integrantes de uma quadrilha que usava a Internet para vender peças roubadas em em Nova Iguaçu, na Baixada, foram presos. Segundo a polícia, um mecânico comandava desmanches de veículos roubados, e três comparsas vendiam o material pela ‘Robautonet’. Peças, acessórios e um revólver foram apreendidos.
A falta de repressão às feiras de peças automotivas sem procedência legal comprovada colabora para o crescimento das feiras clandestinas e roubos de carros. “É importante lembrar que quem compra as peças roubadas colabora para o aumento do roubo. E pode acabar sendo vítima. Uma peça comprada nestas feiras pode representar a vida de alguém”, diz o inspetor da DRFA José Carlos Guimarães.
Segundo a DRFA, o combate a ferros-velhos tem sido uma forma de evitar roubos de carros para venda de peças, já que é lá que geralmente o desmonte é feito. A delegacia está de olho em mais de 80 ferros-velhos que estariam funcionando de portas fechadas na Baixada, Zona Oeste, São Gonçalo e Itaboraí. Nesses locais são vendidos chassis de carros acidentados com perda total, o que é irregular.
“Investigamos seguradoras que fazem leilões de carros com perda total. Bandidos compram chassis por cerca de R$ 1,5 mil, montam outro veículo com peças roubadas e vendem por até R$ 40 mil. São os carros ‘salvados’”, diz Guimarães. ( O Dia )