terça-feira, 3 de julho de 2012

No Rio , os governos estadual e municipal priorizam os empresários em detrimento do cidadão comum.


Grade para beneficiar ônibus impede travessia de pedestres na Central e o número de acidentes aumentou em relação com o ano passado mesmo com estrutura

A região do filme "Central do Brasil", que concorreu ao Oscar de 1998, tem passado por dias de caos, desde que uma nova estrutura foi adicionada ao cenário do longa: grades nas calçadas.
Instalado em março, o gradil impede a travessia de pedestres e garante maior fluidez dos ônibus no recém implantado corredor BRS. Também transferiram os sinais de trânsito que beneficiavam os transeuntes, dificultando a vida de quem atravessa a Avenida Presidente Vargas.
Como no filme "Central do Brasil", que começa com a mãe de Josué (Vinícius de Oliveira) morrendo atropelada -, na vida real também são os atropelamentos de pedestres naquela área. No ano passado, entre janeiro e abril, 44 pedestres foram atropelados em toda a Avenida Presidente Vargas. Neste ano, no mesmo período, já totalizaram 67, segundo o Corpo de Bombeiros.

As modificações foram feitas pela secretaria municipal de Transportes e a CET-Rio.

Deficiente visual precisou se arriscar em meio aos carros para atravessarCom a mudança implantadas pela secretaria municipal de Transporte e a CET-Rio, quem mais sofre são os deficientes físicos, deficientes visuais e os idosos. Além de precisarem percorrer um trajeto maior, ficaram sem as rampas de acesso à calçada. As novas faixas de pedestres não contam com a acessibilidade.

Maria Ilda, de 60 anos, ignorou as novas faixas e tentou atravessar no meio dos carros, mesmo ciente que estava se arriscando. Como não podia ficar na beira da calçada, cercada pelas grades, esperava uma brecha no trânsito no asfalto e acabou caindo na rua.

- Me desequilibrei porque tinha um carro vindo, fui chegar mais perto da calçada e acabei caindo - contou Maria. A idosa não se machucou.

Sebastião Marcelino, de 53 anos, deficiente visual e frequentador da região, reclama que a mudança piorou seu deslocamento.
Idosa cai no chão ao se assustar com carro- Para o deficiente, seja ele qual for, é um pouco pior sim. Com os sinais tínhamos mais segurança e agora atravessamos no meio da rua - afirma Sebastião, defendendo a ideia de uma passarela na região.

O diretor de desenvolvimento da CET-Rio, Ricardo Lemos, garante que rampas de acesso serão construídas ainda este mês. Segundo explica, o órgão ainda estuda o comportamento da população com as mudanças e diz que a maioria está se adaptando.

- Percebemos que boa parte da população mudou seu caminho para fazer a nova travessia mais segura. Temos projetos urbanos com calçadas mais confortáveis para induzir os pedestres ao novo caminho, afirmou.

Agentes de trânsito e operadores de tráfego ficam na região tentando "educar" os pedestres que ali transitam. No entanto, demonstram cansaço. Nesta terça-feira (3), quatro funcionários da CET-Rio e um guarda municipal se limitavam a orientar os carros. Ignoravam os pedestres que atravessavam fora do lugar delimitado.
Com mudanças, calçada ficou sem rampaCom as grades, as autoridades tenta obrigar os transeuntes a uma travessia maior, porém mais segura. Só que na vida real, a ideia na funciona. Os transeuntes burlam as limitações: há quem pule a grade, passe por um buraco aberto nelas, caminhe pelas ruas entre os ônibus e até os que tentam quebrá-las.

O aposentado Jorge Drozoski, de 61 anos, que nesta terça-feira atravessou a Avenida longe das novas faixas, sugere a construção de uma passarela. A ideia é rechaçada pela secretaria de Transportes, que alega já existir uma sinalização em função do cruzamento: os sinais. Só que eles foram levados para mais longe.
                            Pedestres não respeitam grades instaladas para evitar atropelamentos