segunda-feira, 2 de julho de 2012

A Manchete de um jornal e a formação de opinião 1


Essa manchete do Jornal O Globo de 27/06/2012 não é mentirosa; é tendenciosa, direcionada e politiqueira. Não resta a menor dúvida de que, no Rio de Janeiro, a maior parte da imprensa (escrita, falada e televisionada) está inteiramente comprometida com os interesses dos governos federal, estadual e municipal, seja por cooptação ou por determinação de patrocinadores que dominam os meios de comunicação e colocam os formadores de opinião sob seu controle perverso e prejudicial à democracia, visto que interferem na veiculação das notícias, manipulando e distorcendo fatos e dados de interesse público, com fins político-eleitoreiros. Há uma falsa liberdade de imprensa, pois só pode ser noticiado o que agrada aos governantes e aos megaempresários.

Dentro dessa linha de raciocínio é que denunciamos, reiteradamente, as manipulações das estatísticas e das pesquisas de opinião e as farsas mostradas nas propagandas oficiais dos governos, com o uso do dinheiro público, para promover governantes. Essas propagandas de autopromoção deveriam ser proibidas por legislação eleitoral, pois configuram propaganda eleitoral extemporânea. Por que os governos têm que gastar tanto dinheiro que poderia ser empregado em saúde e educação para dizer o que estão fazendo. A população é composta de cegos e surdos? Não ! A sensibilidade das pessoas é capaz de perceber se as ações dos governos estão lhes trazendo benefícios ou não.

As propagandas televisivas dos governos e de estatais configuram CRIME ELEITORAL. Também é crime interferir na liberdade de imprensa como eles fazem. Vejam que a coisa é bem engendrada: em 2009/2010, apareciam propagandas dos governadores dos estados e do governo federal, pois as eleições eram para governador de estado e presidente da república. Nos anos de 2011/2012, as prefeituras passaram a massificar a propaganda, pois serão eleitos os prefeitos. Desperdício de dinheiro e crime !

Ainda nessa construção de raciocínio, em que se percebe nitidamente a influência na formação da opinião pública, vamos exemplificar a manchete que abre nossa análise. "ESTADO TEM NOVA QUEDA RECORDE DE HOMICÌDIOS". A manchete não é mentirosa, mas é tendenciosa. Muito tendenciosa!

Para as pessoas que têm o hábito de só ler as manchetes (a maioria da população) sem visitar o conteúdo da matéria, fica a ideia de que a criminalidade caiu como consequência da política de Segurança do Estado que, por isso, é perfeita. Usando o termo "NOVA QUEDA RECORDE", a malícia da manchete se torna mais evidente . Mesmo quem lê o conteúdo fica influenciado pela "carga" que as palavras componentes da manchete representam na formação da opinião do leitor.

Ao mergulharmos no conteúdo, encontramos:

1- O número de latrocínios (roubos com morte) aumentou: foram 60 casos em maio desse ano contra 41 no mesmo mês em 2011.

2- O número de roubos de veículos aumentou 42 %, passando de 727 em maio de 2011 para 1037 no mesmo mês deste ano.

3- Os roubos a transeuntes subiram de 34 em maio de 2011 para 57 mo mesmo mês deste ano(um acréscimo de 67 %)

Esses números são do Instituto de Segurança Pública, o que já pode representar uma certa maquiagem. Além do que, muitas pessoas não fazem a ocorrência policial por motivos diversos. E se forem todos os números verdadeiros, a segurança Pública não está a maravilha que a manchete tendenciosa quer passar para os leitores.

É preciso ter muito cuidado ao lermos as manchetes dos jornais ou acompanharmos o noticiário por rádio e TV. Antes de tudo, é preciso termos o conhecimento, ainda que superficialmente, do grau de interesse e de comprometimento do órgão de imprensa que edita essas matérias jornalísticas com os governantes e os empresários. O interesse econômico e a relação de dependência política estão, quase sempre, envolvidos nessa questão.