quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

EDUCAÇÃO INFANTIL : MÁXIMA PRIORIDADE ! ( MAS NÃO NO RIO ! )

      
Trechos da entrevista de Jack Schonkoff, do Centro para o Desenvolvimento Infantil, de Harvard, ao Estado de SP (09).

1. "Houve uma revolução. Durante décadas, observávamos claramente como uma família preocupada com a educação das crianças na primeira infância poderia exercer um poderoso estímulo no seu desenvolvimento. Também ficava patente que a exposição precoce a ambientes violentos têm um impacto muito negativo no processo formativo. Agora, começamos a entender como esses fatores de estímulo ou estresse influenciam a fisiologia da criança com menos de seis anos, especialmente o cérebro. Tal conhecimento ajuda muito na hora de pensar intervenções para diminuir o abismo que separa crianças que receberam uma educação adequada daquelas expostas a um ambiente ruim.

2. Crianças submetidas a um ambiente marcado por doenças mentais, drogas ou relacionamentos violentos constituem um problema complexo. A ciência tem mostrado que o impacto do estresse nessa fase é tão grave que aumenta o risco de hipertensão, diabete e cardiopatias na idade adulta. Naturalmente, o cérebro é o principal afetado com danos comprovados em diversos circuitos. Educadores e - na medida do possível, os pais - precisam identificar com precisão qual é o fator de estresse e tentar criar um espaço de segurança ao redor da criança. Precisarão ensinar a ela técnicas para lidar com as situações negativas a que está submetida, minimizando os danos. Sem isso, prover os estímulos tradicionais é insuficiente. Não serão eficazes para corrigir os prejuízos já sofridos na afetividade e na cognição.

3. O principal fator determinante para o sucesso de um programa é o treinamento adequado dos educadores que vão conduzi-lo. Há uma tentação de pagar pouco para esses profissionais. Mas é uma economia ilusória, pois diminui a qualificação e o comprometimento de quem você contrata. O resultado que você consegue por cada dólar investido cai bastante. E a qualificação é tanto mais necessária quanto maiores são os dramas enfrentados pelas crianças. Além disso, um único programa aplicado para toda a população costuma ter resultados ruins. É preciso conceber diferentes programas que correspondam às necessidades específicas de cada grupo. Para a maioria das famílias carentes, de fato, bastará prover informações para os pais, que muitas vezes não tem qualquer escolaridade, e os ajudar a contribuir para a educação dos filhos. Os pais continuam sendo os atores mais importantes na educação dos filhos. Programas que conseguem engajá-los na formação das crianças apresentam taxas de sucesso muito maiores. Mas são necessário programas especiais para grupos de risco.

4. Quando a criança nasce, já tem quase todas as células do cérebro que a acompanharão durante a vida. Mas faltam ainda os circuitos e conexões que ligam os neurônios. Na primeira infância, essas conexões ocorrem de uma forma muito rápida. Além dos fatores genéticos, o principal determinante são as experiências que a criança vivencia. Nos primeiros dois anos de vida, o ritmo de ligações alcança 700 conexões por segundo. É como a construção progressiva de uma casa. As primeiras conexões são o fundamento, as seguintes são as paredes, depois o telhado... Os circuitos de maior complexidade dependem dos anteriores, mais elementares. Naturalmente, o cérebro não perde a capacidade de compensar deficiências e nunca é tarde demais para desistir. Mas o resultado fica aquém quando comparado com um desenvolvimento adequado e o custo torna-se muito maior.

5. E o dinheiro investido na primeira infância apresenta a melhor relação custo benefício de todos os investimentos feitos em educação. A segunda decisão política a ser tomada é reconhecer que, para grupos restritos da população, estímulo educacional não é suficiente. Para famílias em situações de maior vulnerabilidade, são necessários programas para diminuir e compensar os fatores de estresse na educação das crianças. A sociedade deve perceber que o investimento na primeira infância compensa. Além de aumentar, no futuro, a população economicamente ativa diminui muito o número de pessoas que vão parar nas prisões. Há estudos que comprovam isso.

6. Sem dúvida, não é fácil. Investimentos em educação na primeira infância são sementes que você lança e seus filhos e netos colherão depois. É necessário um sentido de legado que falta a muitos políticos preocupados com seu próprio desempenho na próxima eleição. Mas precisamos argumentar e a ciência oferece ótimos argumentos. Um famoso estudo realizado em Michigan comparou durante quarenta anos o desempenho de pessoas pobres que tiveram acesso à educação na primeira infância com indivíduos semelhantes mas que não receberam o mesmo apoio. Os resultados são eloquentes. A probabilidade de concluir o ensino médio era 20% maior no grupo que estudou na primeira infância. O envolvimento com crimes também era significativamente mais baixo no mesmo grupo. Economistas calcularam que para cada dólar investido na primeira infância, nove dólares eram economizados depois. Sem dúvida, as crianças serão mais felizes. No futuro, sua taxa de empregabilidade, por exemplo, será maior. Contudo, precisamos perceber que a sociedade é quem lucra o maior benefício.

7. (Ex-Blog) A secretaria municipal de educação da prefeitura do Rio atualizou os números de sua rede, de matrículas e escolas, em 11 de agosto de 2011. EDUCAÇÃO INFANTIL (creches + pré-escola) são 111.613 alunos/crianças matriculados. O Tribunal de Contas do Município do Rio (TCM-RIO), em seu relatório de contas, informa que, em 2008, em EDUCAÇÃO INFANTIL, eram 116.065 alunos/crianças matriculados. Ou seja, em dois anos e meio houve uma redução de matrículas em Educação Infantil de 4.452 crianças (3,8%).