quarta-feira, 17 de agosto de 2011

PARQUE CLANDESTINO OPEROU 45 DIAS AO LADO DA PREFEITURA !

O Crea atestou que crianças corriam o risco de morrer eletrocutadas

O descaso com a segurança nos parques de diversões do Rio tem encontrado respaldo na negligência da Prefeitura do Rio. Desde 1º julho, o Parque Playmil, vizinho da sede do governo municipal, na Cidade Nova, funcionava clandestinamente. Mas a falta de alvará não impediu que permanecesse em atividade por 45 dias e até recebesse crianças de creches municipais. As atrações também apresentavam risco para os frequentadores. Nesta terça-feira, morreu a segunda vítima do acidente no Parque Glória Center, em Vargem Grande, o adolescente Víctor Alcântara de Oliveira, 16 anos.

Víctor é a quarta vítima fatal do parque: domingo, morreu Alessandra Aguilar, 17, também atingida pelo carrinho do brinquedo ‘Tufão’ que se soltou. Em junho um funcionário morreu e em 2006, um menino de 14 anos.

A pedido de O DIA, o engenheiro Jaques Sherique, do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea) inspecionou segunda-feira o Playmil e encontrou irregularidades: “Brinquedos sem a fixação ideal, com má conservação, fios desencapados pelo chão e isolados com saco plástico. Se chover, a área ficará em condição de choque elétrico elevado, podendo até matar uma criança”.

Sem a documentação exigida, a gerente do Playmil, Andréa Velasco, argumentou: “Prova disso (de que teria autorização) é que todas as quintas-feiras o parque funcionava exclusivamente para receber crianças de creches do município que eram trazidas aqui para se divertir”.

Segundo a Secretaria Especial de Ordem Pública (Seop), o pedido de alvará do Playmil foi negado. O órgão só não soube explicar como funcionou ilegalmente tanto tempo nas barbas da prefeitura. A ordem para desmontá-lo só chegou nesta terça-feira, mais de 30 horas após O DIA questionar a Seop sobre a irregularidade.

O Crea-RJ também vistoriou outro parque em São João de Meriti, liberado pelo engenheiro Luís Soares Santiago, responsável por laudo do Glória Center. Os brinquedos ainda estavam sendo montados, mas o laudo já estava pronto. Santiago foi indiciado por falsidade ideológica e poderá responder pelas mortes. O Crea analisará os 1.600 laudos emitidos por Luís para parques nos últimos 10 anos. Os que ainda estiverem em vigor serão suspensos.

‘O brinquedo tinha um defeito inexplicável’, diz dona

A dona do Glória Center Parque de Diversões, Maria da Glória Pinto, e seu filho, Leandro Pinto, foram indiciados por dois homicídios dolosos (com intenção de matar) e também por lesão corporal. Eles passaram quatro horas na 42ª DP (Recreio), mas se recusaram a prestar depoimento.

Na saída, correndo pela rua, Maria da Glória, gritou: “Não sou assassina! Foi uma fatalidade. O brinquedo tinha um defeito inexplicável”. Também foi ouvido um sócio de Maria da Glória, que tinha 20% da participação no parque. Ele afirmou que não andaria no brinquedo que quebrou.

Não morreu só minha filha, morri eu, minha mãe”, contou Carlos Augusto Aguilar, pai de Alessandra, na delegacia.

Atingido na fila pelo impacto de três toneladas do carrinho do brinquedo ‘Tufão’, do Parque Glória Center, Víctor Alcântara de Oliveira, 16 anos, não resistiu ao traumatismo craniano.

A informação de que os donos do parque — condenado por peritos e engenheiros do Crea — classificaram a tragédia de fatalidade revoltou a família. “O irmão era meu e não deles, por isso é fácil falar assim, mas a justiça será feita”, desabafou Rafael Alcântara, 25, no Miguel Couto.

“Víctor será sempre lembrado pela alegria e o gosto pela dança”, disse Rafael. Víctor era bailarino do grupo de funk ‘Os Anjinhos’. Em sua página no Orkut escreveu “Alguém disse que a vida é uma festa. A gente chega depois que começou e sai antes que acabe”. Parentes e amigos estenderam faixa de protesto.

Um comentário:

  1. Infelizmente levamos Nossos filhos nesses parques acreditando que os órgãos competentes teriam feito as inspeções necessárias.

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