domingo, 12 de agosto de 2012

Madureira chora !

Em meio à guerra do tráfico, Madureira sofre com ação de paramilitares.


Enquanto o barulho de tiros anuncia mais um dia de disputa entre traficantes dos morros de Madureira, do outro lado da passarela da Avenida Edgard Romero, a guerra é silenciosa, porém não menos violenta. Há anos vivendo sob o julgo do tráfico, um dos berços do samba no Rio — famoso pelo Jongo da Serrinha — agora também sofre com a ação das milícias.
Comerciantes denunciam que têm que pagar taxas a grupo de paramilitares para evitar represália. Há pelo menos oito meses a Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais abriu investigação sobre a atuação da milícia.
Além do amplo comércio que atrai compradores de toda parte da cidade, Madureira é também passagem para quem segue para Irajá e Vaz Lobo

“Quem não quer pagar ou atrasa o pagamento tem a loja assaltada a mando dos milicianos. Tem uma aqui que já foi assaltada umas quatro vezes”, revelou comerciante que não quer se identificar. Um dos alvos dos milicianos é a Rua Maria de Freitas, pólo comercial atrativo, um pouco mais distante do Morro da Serrinha, uma das favelas do bairro dominada pelo tráfico.

Há indícios de que a milícia tenha tomado o controle do comércio há mais tempo que oito meses. “Estamos investigando a ação do grupo em Madureira desde janeiro. Mas, com certeza, ela já está agindo há mais tempo na região porque esse tipo de ação não é imposta de uma hora para outra. Quando a denúncia chega é porque as coisas já estão acontecendo há algum tempo. É difícil fazer as pessoas prestarem depoimento porque elas têm medo”, justifica o delegado da Draco/IE, Alexandre Capote, sem revelar quem são os grupos que estão por trás das extorsões em Madureira.

Uma das moradoras ilustres do bairro e famosa por promover tradicional roda de samba com feijoada, Tia Surica lamenta a violência na região. “A gente fica chateado porque esses confrontos acontecem aqui. Temos que pedir a Deus para nos proteger”, lamenta.
Usuários de crack assaltam .

Na Av. Edgard Romero, por onde circulam milhares de pessoas atraídas pelo Mercadão de Madureira, a reclamação é de tiroteios e assaltos a pedestres. Há menos de um mês, pelo menos 12 traficantes teriam morrido em confrontos na Serrinha. Walace de Brito Trindade, o Lacosta, é apontado como um dos envolvidos. O Disque-Denúncia (2253 - 1177) oferece R$ 1 mil de recompensa por dicas que levem à sua prisão.

Usuários de crack, a maioria menores de idade, são apontados pelos pedestres como os responsáveis pelos constantes assaltos. Dados do Instituto de Segurança Pública revelam que de janeiro a junho foram registrados 679 casos de assaltos a pedestres contra 537 no mesmo período de 2011, mais 142 casos (aumento de 26% ). “Tem que ter muito cuidado com a bolsa e o celular”, disse uma pedestre.

Bandidos invadem lojas.

Comerciante na região há 13 anos, uma mulher passou minutos de pânico há um mês quando sua loja foi invadida por bandidos em fuga que trocaram tiros dentro do estabelecimento. “Ficou tudo quebrado. Foi muito tiro. Estavam aqui a minha mulher e uma funcionária que se jogaram no chão. Graças a Deus ninguém se feriu”, contou o marido da vítima.

No último confronto na Serrinha, alguns estabelecimentos fecharam as portas. Funcionários, que se dizem habituados aos tiroteios, já sabem o que fazer quando a guerra começa. “A gente se joga no chão para se proteger das balas perdidas”, disse a atendente de salão de beleza.

A poucos metros dali, na área do Cajueiro, outra favela do bairro, apenas pequenos e simples botequins sobrevivem. Num dos acessos, na Rua Costa Fonseca, há barricadas instaladas pelo tráfico.