Sindicaista diz que equipe de Lupi lhe cobrou propina.
Revista IstoÉ
Depois de passar uma semana negando a cobrança de propinas de até 10% de ONGs, o ministro Carlos Lupi (Trabalho) ganhou matéria prima para novas explicações. A equipe de Lupi é acusada de extorquir também os sindicatos, num esquema que desvia verbas recolhidas de trabalhadores para as arcas da Força Sindical.
Chama-se João Carlos Cortez o autor da nova denúncia. Ele falou ao repórter Claudio Dantas Sequeira. Cortez preside o Sindrest (Sindicato de Trabalhadores em Bares e Restaurantes da Baixada Santista, Litoral Sul e Vale do Ribeira). Falou diante de um gravador. O resultado da conversa foi às paginas da última edição da revista IstoÉ.
O sindicalista narrou episódio ocorrido em 2007, ano que que Lupi acomodado por Lula no comando da pasta do Trabalho. “Exigiram-me propina numa sala do gabinete, onde funciona a Secretaria de Relações do Trabalho”, disse Cortez. De acordo com seu relato, deu-se o seguinte:
1. Interessado em regularizar o registro do seu sindicato, Cortez foi à presença do ministro Lupi. Da conversa resultou o agendamento de uma reunião.
2. O encontro ocorreu no quarto andar do ministério, numa sala onde despachava Luiz Antônio de Medeiros, então secretário de Relações do Trabalho.
3. Além de Cortez e Medeiros, sentaram-se ao redor de uma mesa de reuniões outros três personagens.
4. Quem? O deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), presidente da Força Sindical; Eudes Carneiro, assessor especial de Lupi; e Luciano Martins Lorenço, presidente do PDT de Santos.
5. O sindicalista Cortez perguntou o que deveria ser feito para regularizar seu sindicato. “Vamos resolver o problema”, teria dito Carneiro, o assessor de Lupi.
6. Coube a Lourenço, o mandachuva do PDT santista, esmiuçar os procedimentos “Me fizeram uma proposta indecente, um pedido de propina ali dentro do ministério”, relata Cortez na entrevista grava. “Eu não tinha outra saída”.
7. A “proposta indecente” consistia no pagamento de um pedágio de 60% de toda a arrecadação do imposto sindical recolhido pelo Sindrest nos três anos seguintes.
8. O dinheiro –coisa de mais R$ 12 milhões, segundo Cortez— deveria ser depositado numa da Força Sindical, controlada pelo PDT, já presidida por Medeiros e hoje comandada por Paulinho da Força, como é chamado o deputado presente à reunião.
9. “Saí de lá confiante de que estava resolvido”, diz Cortez na entrevista. Segundo ele, o negócio foi sacramentado noutro encontro, realizado duas semanas depois.
10. O sindicalista encontrou-se com Luciano Martins, o presidente do PDT de Santos, numa padaria tradicional de Santos.
11. O dirigente partidário retirou de uma pasta documento que anotava no cabeçalho: “Termo de Compromisso de Doação”. Pediu ao sindicalista Cortez que assinasse.
12. Cortez assionou. Com seu jamegão, comprometeu-se a repassar a propina, convenientemente batizada de “doação”, à conta da Força Sindical. Os depósitos seriam feitos em 2008 (30% das contribuições sindicais, 2009 (20%) e 2010 (10%).
13. “O Luciano [Martins] me disse que estava a mando do deputado [Paulinho] e do Medeiros, que falava em nome do ministro Lupi”, diz o sindicalista. “Ele levou os documentos prontos para eu assinar. O termo de compromisso, a título de doação à Força Sindical, servia para encobrir, na realidade, o pagamento da propina. Tudo foi presenciado por outro diretor do Sindrest, Luiz Claudino da Silva.”
14. Decorridos alguns meses, diz Cortez, o registro do sindicato não foi expedido. Por quê. Cortez diz suspeitar que o grupo de Lupi foi pressionado pelo PDT de São Paulo. Cita o nome de Francisco Calazans Lacerda, outro sindicalista, presidente do Sinhores (Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de São Paulo).
15. Declara que Francisco Lacerda defendia os interesses de um terceiro sindicado, o Sinthoresp, que disputa com a entidade sindical dirigida por Cortez a representação dos trabalhadores de bares e restaurants da Baixada Santista.
16. Cortez acusa: “Ouvi que eles pagaram mais para arquivar nosso pedido. Tudo no Ministério do Trabalho é movido a dinheiro”.
17. Em 2010, aproveitando-se da presença de Carlos Lupi nos festejos do Dia do Trabalho, Cortez diz ter levado às mãos do ministro um dossiê no qual relata o que se passou. Esparava obter providências. “Foi a mesma coisa que nada. Ele nunca deu retorno da denúncia. Logicamente, o ministro também está no esquema.”
18. O relato do sindicalista carrega o peso da auto-incriminação. Nele, Cortez admite ter compactuado com uma ilegalidade. A entrevista constitui matéria prima para uma boa investigação da Polícia Federal. Pedidos de propina, mesmo quando não consumados, constituem crime previsto no Código Penal brasileiro. De resto, ficou boiando na atmosfera a incômoda suspeita de que negócios bem sucedidos podem ter transitado pelo balcão sindical do ministério gerido pelo pedetê Carlos Lupi. ( Folha, 12/11)
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