As pessoas imaginam que o pior da corrupção é o dinheiro subtraído dos cofres públicos , que daria para construir casas , redes de esgoto e outras necessidades da nossa sofrida população. Porém , com o passar do tempo , a corrupção destrói a máquina pública , o que compromete a capacidade do governante de fazer qualquer coisa , mesmo que queira. Hoje , o governo brasileiro é incapaz de tomar conta de uma estrada.
Ao ingressar na máquina pública , a primeira coisa que o corrupto faz é escantear os concursados e nomear amigos para ocupar os principais cargos. Esse quadro de alta rotatividade nos cargos de comando é comum nos ministérios e secretarias estaduais e municipais.
Nos países desenvolvidos , a máquina pública é estável - defende o órgão de eventuais aventureiros . No Brasil , é o contrário : os servidores é que se defendem , encostando-se em algum canto para não incomodar os " invasores ". Prevalece um clima de temor em denunciar irregularidades , pois o funcionário sabe que a eventual queda de um urubu só significa que outro irá para seu lugar e o perseguirá.
A CPI dos correios chegou a propor uma legislação que premiasse a denúncia e impedisse prejuízos ao servidor que abrisse o bico. A ideia não foi adiante.
O servidor percebe a inutilidade de se dedicar à sua carreira , de se especializar para melhorar os serviços prestados à população . Ao invés de evoluir com o tempo , a administração pública trilha o caminho contrário : piora a cada ano.
A máquina pública brasileira atingiu tal grau de desestruturação que vigora a completa descrença na sua capacidade de produzir algo de útil. Mesmo que o governante da hora decida que sua reeleição depende de fazer algo que preste em uma área chave , não contará com uma estrutura capaz de realizar sua vontade.
E é aí que surge a solução miraculosa : privatizar tudo . Estradas , hospitais , aeroportos , telefonia , banda larga - tudo foi ou vai ser privatizado por conta da incompetência do Estado. Com o pretexto da Copa do Mundo , fala-se até mesmo em privatizar a segurança pública . Note-se que estamos em um governo do PT , partido que se dizia radicalmente contra as privatizações.
E tudo vai continuar sendo privatizado da pior forma possível . Fosse o Brasil um país capitalista , o caminho de qualquer privatização passaria pela abertura de capital e venda de ações em Bolsa , dando oportunidade a todos os brasileiros de participar do negócio que envolve o seu patrimônio , o patrimônio público.
Ainda assim , se privatização resolvesse o problema , seria ótimo . Mas não é isso o que assistimos . São de péssima qualidade ou muito caros os serviços que são concessões públicas , como estradas , portos , bancos , banda larga e canais de TV a cabo .
Na área social , não é diferente. Incapaz e capaz de tudo , o governo privatiza R$ 10 bilhões por ano com ONGs , a pretexto de executar políticas sociais , usando a desculpa de que o Estado não tem máquina pública para fazer alguma coisa. Não há um só ministro , desses 38 , que ocupe o cargo em função de sua experiência e capacidade técnica. Não há um único que ocupou o cargo e se espantou com o estado lastimável da máquina pública.
Governar significa administrar. E para administrar é preciso ter uma máquina pública eficiente e estável. É preciso estatizar o governo brasileiro.
O Globo , 5/11- Texto de Marco Polo Rios Simões - É servidor público e auditor do tribunal de Contas da União.
Ao ingressar na máquina pública , a primeira coisa que o corrupto faz é escantear os concursados e nomear amigos para ocupar os principais cargos. Esse quadro de alta rotatividade nos cargos de comando é comum nos ministérios e secretarias estaduais e municipais.
Nos países desenvolvidos , a máquina pública é estável - defende o órgão de eventuais aventureiros . No Brasil , é o contrário : os servidores é que se defendem , encostando-se em algum canto para não incomodar os " invasores ". Prevalece um clima de temor em denunciar irregularidades , pois o funcionário sabe que a eventual queda de um urubu só significa que outro irá para seu lugar e o perseguirá.
A CPI dos correios chegou a propor uma legislação que premiasse a denúncia e impedisse prejuízos ao servidor que abrisse o bico. A ideia não foi adiante.
O servidor percebe a inutilidade de se dedicar à sua carreira , de se especializar para melhorar os serviços prestados à população . Ao invés de evoluir com o tempo , a administração pública trilha o caminho contrário : piora a cada ano.
A máquina pública brasileira atingiu tal grau de desestruturação que vigora a completa descrença na sua capacidade de produzir algo de útil. Mesmo que o governante da hora decida que sua reeleição depende de fazer algo que preste em uma área chave , não contará com uma estrutura capaz de realizar sua vontade.
E é aí que surge a solução miraculosa : privatizar tudo . Estradas , hospitais , aeroportos , telefonia , banda larga - tudo foi ou vai ser privatizado por conta da incompetência do Estado. Com o pretexto da Copa do Mundo , fala-se até mesmo em privatizar a segurança pública . Note-se que estamos em um governo do PT , partido que se dizia radicalmente contra as privatizações.
E tudo vai continuar sendo privatizado da pior forma possível . Fosse o Brasil um país capitalista , o caminho de qualquer privatização passaria pela abertura de capital e venda de ações em Bolsa , dando oportunidade a todos os brasileiros de participar do negócio que envolve o seu patrimônio , o patrimônio público.
Ainda assim , se privatização resolvesse o problema , seria ótimo . Mas não é isso o que assistimos . São de péssima qualidade ou muito caros os serviços que são concessões públicas , como estradas , portos , bancos , banda larga e canais de TV a cabo .
Na área social , não é diferente. Incapaz e capaz de tudo , o governo privatiza R$ 10 bilhões por ano com ONGs , a pretexto de executar políticas sociais , usando a desculpa de que o Estado não tem máquina pública para fazer alguma coisa. Não há um só ministro , desses 38 , que ocupe o cargo em função de sua experiência e capacidade técnica. Não há um único que ocupou o cargo e se espantou com o estado lastimável da máquina pública.
Governar significa administrar. E para administrar é preciso ter uma máquina pública eficiente e estável. É preciso estatizar o governo brasileiro.
O Globo , 5/11- Texto de Marco Polo Rios Simões - É servidor público e auditor do tribunal de Contas da União.
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