quinta-feira, 10 de novembro de 2011

As razões ( ocultas) da luta pelos royalties.



    Cabral aposta futuro em passeata contra divisão dos royalties .


Há um ano, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), parecia destinado a navegar em eterna calmaria. Ostentava prestígio com o governo Lula e se reelegeu no primeiro turno, com apoio de 16 partidos e dois terços dos votos.

Agora, enfrenta a ameaça da redivisão dos royalties do petróleo, que pode ressuscitar a oposição fluminense e comprometer seu futuro político. Ele promete reunir hoje 100 mil pessoas em passeata para tentar emparedar a presidente Dilma Rousseff.

Cabral diz que o texto aprovado no Senado, com apoio declarado da ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais), tira R$ 1,5 bilhão do Estado e R$ 1,8 bilhão dos municípios do Rio já em 2012.

Sem o trânsito que exibia no Planalto, ele terá que dividir o palanque hoje com três políticos que cobiçam sua cadeira em 2014: os senadores Lindbergh Farias (PT) e Marcelo Crivella (PRB) e o deputado Anthony Garotinho (PR).

O governo decretou ponto facultativo e anunciou passagens grátis em trens e metrô para tentar encher o ato, mas avisou ontem que nenhum político poderá discursar.

O veto irritou os adversários, que em público prometem apoio na luta pelo dinheiro, mas estão preparados para apontar o peemedebista como o único culpado se a derrota do Estado se confirmar.

"Cabral pode entrar para a história como o governador que entregou as riquezas do Rio", afirma Garotinho.

"Com uma derrota, seu governo ficará inviabilizado. O Rio vai quebrar. Embaralha tudo em 2014", diz Crivella.

Lindbergh faz juras de apoio, mas traça um cenário sombrio no caso de Rio e Espírito Santo não conseguirem reverter a perda quando o tema for votado na Câmara.

"O estrago será enorme. Vai fechar prefeitura, posto de saúde, tudo o que você possa imaginar", diz o senador petista, que em 2010 foi obrigado por Lula a abortar sua candidatura a governador para ajudar Cabral.

Em seu último mês no poder, o ex-presidente evocou a amizade com o peemedebista para vetar outro projeto de redistribuição dos royalties aprovado no Congresso. Os Estados não produtores se rearticularam e conseguiram a simpatia de Dilma. A mudança esfriou a relação entre o Guanabara e o Planalto, que já não era a mesma.

Cabral apostou no confronto. Chegou a dizer, ao jornal "O Globo", que Dilma sofrerá uma "tragédia eleitoral" se não impedir o prejuízo do Rio. A presidente não gostou do tom de ameaça. Na última ida a Brasília, o governador não conseguiu um encontro separado para tratar do assunto. Uma semana antes, ele foi recebido e disse que Dilma "levou um susto" ao ouvir quanto o Rio perderia.

Colaboradores de Cabral já admitem que a hipótese mais provável é perder na Câmara. Neste caso, restará torcer por um novo veto presidencial ou recorrer ao STF (Supremo Tribunal Federal).

Criticado pelo modo como conduziu o debate, o governador corre o risco de se isolar e ver naufragar o sonho da Vice-Presidência ou mesmo uma volta ao Senado em 2014. A perda dos royalties comprometeria sua imagem, já desgastada nos últimos meses com a greve dos bombeiros e a revelação de relações próximas com empresários a quem deu isenções fiscais.

Cotado para sua sucessão, o vice-governador Luiz Fernando Pezão diz que os rivais não devem se animar.
"Eles representam o Rio na Câmara e no Senado. Se perdermos, a derrota não será só do governador. Estamos todos no mesmo barco."

Aliados afirmam que Cabral ainda não trabalha com a hipótese de anunciar rompimento com Dilma. Sua assessoria disse que ele não daria entrevista, pedida pela Folha desde o último dia 24. ( Fonte : Folha)



Nenhum comentário:

Postar um comentário