Uma equipe de saúde da UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da Maré (zona norte do Rio) foi obrigada por homens armados a entrar no conjunto de favelas para socorrer um dos chefes do tráfico de drogas na região, que havia sido baleado.
O caso, ocorrido no último dia 1º, foi revelado ontem à Folha por funcionários da unidade --reaberta pelo governo após uma semana fechada devido a ameaças do tráfico.
"Ele [o traficante ferido] veio acompanhado de mais de 20 bandidos armados com fuzis e pistolas para pedir atendimento", afirmou um funcionário que pediu para não ter o nome revelado. Segundo ele, armas eram exibidas para intimidar médicos, enfermeiros e auxiliares.
Por volta das 10h, a equipe levou o criminoso de ambulância para um hospital particular, mas o atendimento foi negado. O grupo, então, retornou à Maré para deixar o homem numa casa no local --onde permaneceram até o final da tarde.
O funcionário contou que o criminoso recebeu atendimento básico dentro da ambulância, mas não soube dizer se a equipe realizou procedimentos mais complexos no interior da favela.
De acordo com pessoas que trabalham na UPA, localizada num dos principais acessos ao complexo de favelas, é comum que traficantes furem a fila e obriguem médicos a atendê-los na frente de outros pacientes. "Isso virou prática habitual. Pelo menos duas vezes por mês chegava alguém de moto para avisar que precisava de atendimento na favela", disse.
Funcionários também contam que o sequestro do dia 1º foi o quarto envolvendo equipes da unidade. Eles também afirmam que os profissionais sequestrados são militares do Corpo de Bombeiros.
"O comando da corporação está ciente dos outros sequestros, mas até agora não se posicionou", contaram os funcionários. O comandante do Corpo de Bombeiros, Sérgio Simões, disse --através da assessoria de imprensa-- que "não consta nenhum registro da situação citada".
A Folha apurou ainda que a ameaça de traficantes foi o motivo que levou ao fechamento da UPA no último dia 20. Segundo os relatos, criminosos foram até o local exigindo o fim de operações policiais na região, sob risco de ataque à unidade.
A presidente do Conselho Distrital de Saúde da região, Maria de Fátima Lopes, diz que, por causa da violência, seis médicos pediram demissão nos últimos dias.
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