terça-feira, 26 de março de 2013

Hospital Curupaiti sofre de abandono crônico.


Destinado a portadores de hanseníase, falta água, luz e esgoto no instituto estadual em Jacarepaguá.

Entulho e lixo infestam os corredores. Banheiros sem portas, em péssimo estado de conservação e limpeza, são usados como copa por alguns moradores, que fazem suas refeições em bancadas cheias de poeira. A carência de infraestrutura e manutenção estão entre as principais reivindicações dos moradores, além do urgente tratamento do esgoto nas imediações do hospital.

Esta é a atual situação do Instituto Estadual de Dermatologia Sanitária, mais conhecido como Hospital Curupaiti, em Jacarepaguá, zona oeste do Rio, destinado aos portadores de hanseníase. Graças a seu estado de isolamento, parcialmente rompido depois que os índios da Aldeia Maracanã se mudaram provisoriamente para lá na última sexta-feira (20), o estado de abandono a que foi relegado o hospital começou a saltar aos olhos.

Os problemas não são poucos. Rita. Entre outros, falta d' água, de luz e de saneamento básico. Embora já tenham sido feitas algumas reformas, a situação ainda deixa muito a desejar. E em alguns casos, os moradores tiram dinheiro do próprio bolso para consertar quartos, banheiros, cozinhas e até comprar remédios.

O Pavilhão Jesuíno de Alburquerque é considerado pelos moradores o que está em pior estado, com pessoas se alimentando nos banheiros. Funcionários do hospital alegam falta de verbas.

Há precariedade no serviço social e  falta de médicos para fazer cirurgias e até de remédios para diabete e hipertensão arterial.

O local, adquirido pela União em abril de 1922, tem 130 mil m² e foi erguido como uma pequena comunidade, longe dos centros urbanos. Em 1923, vigorava o Regulamento Sanitário, que pregava como prevenção o isolamento dos doentes, em casa ou no hospital. Acreditava-se que assim o contágio seria evitado. Competia ao Estado dar recursos para a internação de pessoas.

Porém, esta política era preconceituosa e, embora oferecesse tratamento, havia o estigma e o medo da população. A luta dos pacientes para reaver seu direito de cidadania e reintegração social começou nesta época e, em muitos casos, continua até hoje.

Oficialmente, estas medidas de segregação social foram suspensas com o decreto nº 968, de 7 de maio de 1962. Na prática, no entanto, só ocorreram em 1967. Em 1986, durante a 8ª Conferência Nacional de Saúde, houve a Reforma Sanitária. Com ela as colônias se tornaram hospitais gerais e de dermatologia, como o de Curupaiti.

Segundo Artur Custódio, coordenador Nacional do Morhan (Movimento de reintegração das pessoas atingidas pela Hanseníase), há 33 antigas colônias no país e algumas estão em estado de abandono. “A maioria delas se manteve mesmo após a chegada da cura da doença, por volta dos anos 40. Deveria ter sido o fim dessa política de segregação compulsória, mas Getúlio Vargas tinha um monte de colônias para inaugurar e assim o fez, até por conta de pressão da sociedade e como campanha política”, ele explica.

Segundo Custódio, em 1953 houve uma recomendação mundial por parte da ILA (International Leprosy Association) para acabar com as colônias e com o isolamento. Naquele momento, porém, nenhum país seguiu a advertência. Na década de 70, a ONU aconselhou o uso de poliquimioterapia para tratar a doença e fez campanha para eliminar a expressão "lepra", substituída por hanseníase.

"A comissão de direitos humanos da ONU estabeleceu uma frente de trabalho, da qual o Morhan faz parte e visa proteger a população afetada pela doença. Com a cura, as pessoas começam a se tratar nos postos de saúde, e muitas dessas colônias foram abandonadas pelo estado. A proposta era fechar todas elas, mas aqui no Rio propusemos ao governador Sérgio Cabral criar um modelo a ser seguido em todos os estados. Ele pressupõe que os antigos pacientes e moradores permaneçam nos locais das antigas colônias", explica.

"A primeira proposta foi a questão das casas. São 300 em Curupaiti e muito mais que isso na colônia de Tavares de Macedo, em Itaboraí, onde a situação está bem pior. O Instituto de Terras e Cartografia do Rio (Iterj) entrou com a proposta para dar as casas aos que viviam nas colônias. Começamos uma série de ações para ajudar. Há três anos, em um show do cantor Ney Matogrosso - grande defensor da causa dos portadores de hanseníase -, o empresário Eike Batista resolveu nos ajudar e doou R$ 4 milhões e meio. Com essa verba, compramos um caminhão-consultório, reformamos um pavilhão em Itaboraí e outro em Curupaiti, este por R$ 700 mil reais", esclarece o coordenador.( JB )