domingo, 17 de junho de 2012

Pelo poder , o PT faz qualquer " negócio ".

PT se alia a Maluf em São Paulo.
Pelo acréscimo de 1 minuto e 35 segundos no tempo de TV da campanha de Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo, o PT está disposto a riscar de sua história quase 25 anos de combate ao malufismo. O tempo extra no horário eleitoral garante a Haddad vantagem de um minuto sobre seu rival, o tucano José Serra. O preço: extrair sem anestesia de seu rol de desafetos o político que por décadas figurou como inimigo número 1 do petismo, o ex-prefeito e deputado federal Paulo Maluf (PP-SP).

Adversários históricos em campanhas municipais paulistas, Maluf e PT travaram disputas repletas de trocas de acusações de corrupção, bordões eleitorais pontiagudos e bate-bocas ao vivo em debates televisivos. O episódio mais famoso, ocorrido na campanha de 2000, envolveu a hoje senadora Marta Suplicy, que, irritada com ataques do rival no programada da Rede Bandeirantes, carvou a célebre frase: “Cala a boca, Maluf!”.

PT deixa desavenças com Maluf no retrovisor de olho no voto conservador
No mesmo pleito, com Marta à frente das pesquisas, a resposta malufista veio em forma de outdoors espalhados pela cidade com frases que atacavam a petista. As peças diziam "Mamãe, vote em quem nunca usou drogas” e “Mamãe, vote em quem é contra o aborto”, em referências a bandeiras de Marta. Em entrevistas, Maluf também subiu o tom contra a adversária, a quem instou a revelar o que chamou de “vida devassa”. A petista acabou eleita.

Histórico

A rivalidade entre Maluf e o PT começou em 1988. Naquele ano, a então candidata petista à prefeitura de São Paulo, Luiza Erundina – hoje deputada federal pelo PSB e escolhida vice de Haddad –, superou o adversário, que concorria pelo PDS, após ele liderar as pesquisas na maior parte da disputa. No ano seguinte, Maluf e o sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva se enfrentaram nas urnas pela Presidência da República, sendo que apenas o petista chegou ao segundo turno, onde foi derrotado por Fernando Collor.

Em 1992, Maluf enfrentou o então marido de Marta, o senador Eduardo Suplicy. Na época, o papel de destaque de Suplicy na CPI que resultou no impeachment de Collor levou Maluf a economizar nos ataques ao rival. Mas o PT, que usava denúncias de corrupção para atacar Maluf, continuou na mira. A estratégia malufista, que garantiria sua vitória, ecoou no jingle: “A gente não tem nada contra o Suplicy. A gente não quer mais é o PT mandando aqui”.

Interpol

O bordão foi criado pelo publicitário Duda Mendonça, que viria a se tornar o “mago das urnas” e seria mais tarde responsável pela primeira campanha vitoriosa de Lula à Presidência. A lista de desafetos do PT, contudo, não é a única da qual Maluf faz parte. Ele e seu filho, Flávio, figuram no alerta vermelho da Interpol - espécie de polícia Internacional – que reúne os criminosos mais procurados do mundo.

O ex-prefeito é acusado pela Promotoria de Nova York por suposto desvio de recursos de obras em São Paulo, crimes de conspiração e remessa de US$ 11,6 milhões ilegais para uma conta bancária nos Estados Unidos. Com isso, ele e o filho não podem deixar o país, sob o risco de serem presos e extraditados para os Estados Unidos. Os dois negam as acusações e recorrem das ações na Justiça.


Maluf figura no alerta vermelho da Interpol, polícia Internacional que reúne os criminosos mais procurados do mundo

Maluf é uma espécie de antítese da ex-prefeita Luiza Erundina. Erundina trocou o PT pelo PSB em 1997, após desentendimentos internos. Porém, ela ainda empolga a militância petista pelo discurso da ética na política e pelo foco na parcela pobre da população. Já o pepista é encarado como o avesso da ex-prefeita, por ser repetidas vezes ligado a denúncias de corrupção, personificar a direita paulistana e ter colaborado com a ditadura militar (1964-1985).

Ao longo de sua trajetória política, Erundina travou disputas não apenas com Maluf, mas também com seus arautos. Um deles, o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta. Com vida pública conturbada, Pitta iniciou sua aproximação com o malufismo como diretor financeiro da Eucatex, empresa pertencente à família Maluf, onde trabalhou por dez anos. Ele assumiu a Secretaria de Finanças na segunda gestão de Maluf, então pelo PPB, em São Paulo.

Sustentado pela popularidade de Maluf, Pitta sucedeu seu padrinho na prefeitura ao superar Erundina na eleição de 1996. Naquele pleito, em debate da TV Cultura, Erundina, ainda no PT, referiu-se a Pitta como “novato” e o acusou de superfaturar obras. Pitta rebateu pedindo provas e apresentou-se como candidato da “renovação” na política. O candidato de Maluf foi eleito, mas a história se encarregou de dar razão a Erundina.

Legado de Pitta

A administração de Pitta foi manchada por uma série de denúncias, como os escândalos de corrupção dos “precatórios” e a “máfia dos fiscais”. Ele chegou a ser afastado do cargo por 18 dias. Depois não conseguiu mais se eleger, apesar de ter tentado duas vezes vaga na Câmara federal. Pitta foi preso e condenado por corrupção passiva, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Ele morreu em 2009.

Desde então, malufistas e ex-aliados tentam se desvencilhar do legado Pitta. O próprio Maluf - que na eleição de 1996 afirmou: "Se Celso Pitta não for um bom prefeito, não votem mais em mim" – teve que recuar. O tema se tornou mantra em campanhas municipais paulistas. Em 2008, por exemplo, a então candidata petista Marta Suplicy cobrou em debate o rival Gilberto Kassab (DEM) pela ligação com Maluf e Pitta.

“Acho importante saber com quem anda sim. Eu ando com o Lula. Tenho muito orgulho. E você anda com Maluf e Pitta. E por que está envergonhado disso? Você foi o carro chefe do ‘Reage Pitta’”, alfinetou Marta. Kassab rebateu: “Maluf esteve com você há quatro anos e hoje é base de governo do Lula. Já o Pitta me arrependi e me afastei dele”.


Em debate eleitoral, Marta Suplicy foi enfática: “Cala a boca, Maluf!”

Os efeitos da aliança com Maluf para as eleições de 2012 dividiram petistas. O senador Eduardo Suplicy (SP) reafirma que o partido tem história de combate ao pepista. “O fato é que ninguém vai apagar a história de divergências do PT versus o Maluf, e vice-versa”, assevera. “Tenho divergência com Maluf desde quando era deputado estadual em 1978. Fui oposição a ele desde quando quis nomear um prefeito biônico e bati ao máximo para que isso não acontecesse, além de tantos outros episódios”.

O senador afirma não acreditar que a aliança gere constrangimento entre a militância petista. “Não creio que isto vá acontecer. Salvo engano, na última eleição o Maluf apoiou o PT no segundo turno”, lembra, se referindo à campanha de 2004, na qual o ex-prefeito esteve com Marta. “Temos que ajudar a persuadir todos os paulistanos. Se o Maluf resolveu votar em Haddad, não vamos protestar. Do ponto vista para a campanha em São Paulo isso é bom”.

Já o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP), nega que a aliança com Maluf contrarie a história do partido e argumenta que a legenda “não está em condição de recusar apoio” em São Paulo. “Se Maluf e o PP concordam com o nosso projeto, por que recusa-los?”, questiona. “O PP está na base aliada, apoiou a candidatura da presidenta Dilma Rousseff. E o Maluf tem força em São Paulo”.

Além da vantagem no tempo de TV, ele assinala que a aliança trará votos que o PT normalmente não alcançaria. “O Maluf agrega um eleitor que não vota PT, que é o eleitorado conservador, de direita. Já a Erundina pega a esquerda, a igreja progressista”, analisa o líder petista, que nega que a campanha “esconderá” Maluf. “Ele vai ser mostrado, claro. Não vamos enganar o eleitor”. A reportagem ligou para o celular de Maluf, mas não conseguiu falar com o deputado.

As informações são do repórter Fred Raposo, do IG