terça-feira, 26 de junho de 2012

" Mulheres querem ser desejadas . admiradas e elogiadas " , diz autor do livro Minhas Amigas.


Eu tenho uma amiga que foi engordando, engordando e, quando percebeu, o marido, com quem habitava há trinta anos, estava batendo a porta, rumo à nova vida com uma adolescente de 20, redonda apenas nos lugares certos. A história de sempre. Ela havia desistido, ele foi cruel em descartá-la. Ela o considerava morto, ele foi vivo demais. Não há mocinhos e bandidos no duelo amoroso. Minha amiga chorou dentro de casa algumas semanas, depois entrou numa academia de ginástica, emagreceu o que precisava. Não se queixa. Aprendeu. Diz que se fosse ele teria feito com mais doçura, mas não seria muito diferente.

(…)

Eu tenho uma amiga que começa a chorar no meio de qualquer discussão e deixa desarmado o homem do outro lado do ringue. Imediatamente, ele dá por encerrada a contenda e, consternado com as lágrimas que provocou, sentindo-se o últimos dos bárbaros, pede desculpas. Uma mulher que chora é invencível, e a minha amiga, não sei se por truque, não sei se por índole da espécie, ganha todas. Homens carregam um soco-inglês para enfrentar qualquer contrariedade na selva urbana. Ela carrega sempre uma caixa extra de lenço de papel. Dá mais dramaticidade à cena.

(…)

Eu tenho uma amiga de olhos escuros e pele suave, talvez a mais bonita de todas, que põe a vida amorosa na contramão da sua elegância intrínseca. Só namora os mais lamentáveis malandros. Sofre. A cada fim de caso diz que entendeu por onde falha o seu GPS sentimental e jura não pegar mais os atalhos machos que ele oferece – até que na semana seguinte, no próximo bar de sexta à noite, lá está ela sendo puxada pelos cabelos. Ri sem jeito, canta junto o samba que estiver tocando e beija a boca do cafa. Ninguém tem nada com isso. No último aniversário, eu fiz o fino. Dei de presente A educação sentimental, de Flaubert, e deixei que literatura fizesse efeito. Até agora, nada. Acho que ainda não leu.

Os três (deliciosos) textos são parte de um total de cem contos do livro Minhas Amigas, de Joaquim Ferreira dos Santos, que acaba de ser lançado pela editora Objetiva. O autor, de quem já li outros livros, como Leila Diniz e O que as mulheres carregam na bolsa?, é, na minha opinião, um grande conhecedor da alma feminina (ele diz que não, que é apenas um repórter, um bom observador). Nesta nova obra, mistura realidade e ficção para falar de nós. Impossível não se identificar em pelo menos uma das cem histórias que estão no livro.

Joaquim Ferreira dos Santos falou com o Mulher 7×7:

Feliz é o homem que tem amigas mulheres?

A amizade é um patrimônio que independe de sexo. Tenho amigos homens, gosto deles e dos nossos assuntos. Mas me coube ficar melhor entre mulheres. Tenho duas filhas, duas irmãs, trabalho com assuntos feminininos, biografei Antôio Maria, um homem que também tinham um ouvido bom para falar com elas. Eu falo pouco, elas falam muito, querem acima de tudo serem ouvidas. Gosto da função, da conversa delas e da maneira como se expoem mais que os machos. Gosto também do leve frisson sexual que existe na amizade homem e mulher. Tenho amigas de quem já ouvir a clássica negativa do “não, eu te quero só como amigo”, e nem por isso recusei. Mulher é sempre estimulante. Dou mais de mim quando estou falando com elas, Porque é um homem e uma mulher, há sempre um projeto de sedução na parada.

Conhecedor da “alma feminina”, você acha que consegue responder a velha pergunta “o que querem as mulheres”?

Mulheres querem ser desejadas, admiradas, elogiadas e consideradas. Como eu concordo com tudo isso e consigo ver sempre alguma dessas possibilidades numa mulher, só vejo felicidade em tratar com elas. Mas eu sou mais um repórter da alma feminina do que um expert. Acho que o Xico Sá, o Fabricio Carpinejar, o Leo Jaime, muito mais competentes para ditar regras e análises sobre a matéria. Eles são mais líricos, mais Nelson Rodrigueanos, influências certas para refletir com radicalismo, sem redes, sobre elas. Eu sou répórter há 42 anos, não há como não se deixar enferrujar pela ofício. Eu olho para o mundo e tomo notas. “Minhas amigas” é o livro de um repórter, que olha o fascinante espetáculo das mulheres caminhando, anota e conta aos seus leitores. Continuo maravilhadamente perplexo com o espanto feminino, seus dramas, tristezas e gargalhadas, mas não sou um especialista para lhes definir a piscina das almas. Eu mergulho junto, e só.

Das historias, o quanto é ficção e o quanto é real?

As historias do livro partem sempre da realidade de minha relação com as amigas. Ficciono um pouco só para nao identificar a personagem principal e dar um colorido literário. Mas é tudo verdade, eu vi, elas me contaram. Mulheres admitem mais os fracassos, choram mais suas perdas e riem também do ridículo de tudo isso. Eu fui anotando.

De tanto observar e escrever sobre mulheres – incluindo aí Leila Diniz – você acha que se tornou um homem melhor?

De tanto observar, de tanto escrever e tambem de tanto envelhecer. O amadurecimento tem que ter alguma vantagem. Eu me acho menos machista e autoritário. Também tenho a sorte de estar há seis anos com uma mulher deliciosamente madura e que, quando irrompem meus ataques de macho das cavernas, ela simplesmente ri e me deixa com o rídiculo me ecoando nos ouvidos.

Diga se é VERDADEIRO ou FALSO:

Mulher não é amiga de mulher.

Falso. é um exercicio diferente da amizade que têm com os homens e mais sensível. São suas competidoras e são seus espelhos. Mulheres, em geral, nao gostam quando se olham no espelho.

Mulher prefere homem cafajeste.

Falso e verdadeiro. Cafajestes são divertidos, são uma caricatura do macho. Se a mulher sabe que está tratando com um, pode se divertir bastante.

Mulher no volante, perigo constante.

Falso. Homens usam o volante para se afirmar. Eu tenho pânico em táxi. Nunca precisei usar com mulheres-motoristas o meu velho truque. Costumo entrar no táxi e dizer para o motorista: “meu amigo, eu sou doente. Tenho pânico de velocidade”. É uma técnica. nao faço acusações. No inicio eu pedia pra que dirigessem mais devagar, e isso era como insultá-los. Machos não dirigem devagar.

Mulher se veste para as outras mulheres.

Em geral, verdadeiro. Homens não ligam muito pra isso, a não ser quando elas estão atochadas em algum vestido cachorra. Se nao for a deles, olham. Se for, mandam trocar de roupa e se comportarem. Eu sou um chato e gosto de editar a moda da minha namorada. Gosto de dizer, já que elas se ventem para as amigas, como acho que ela fica deve ficar bonita para o meu padrão.

Mulher só trai quando o homem não liga pra ela.

Verdadeiro. A traição é inerente ao ser humano, mas o homem é mais predisposto ao ofício. E também menos disposto a dramatizar o gesto. Ele trai, mas isso nao é um comenário sobre o que lhe vai na alma e no corpo em relação à sua mulher. É da índole. Mulheres são mais racionais. Diante das delícias do chocolate que lhes é oferecido fora de casa, ficam seduzidas, agradecidas, mas acham que melhor não. Pra quê?

Martha Mendonça é editora-assistente de ÉPOCA no Rio de Janeiro.Leia o Blog completo