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Tumores de intestino, esôfago, pâncreas, próstata, estômago e colorretal podem ser evitados com o consumo de uma dose baixa de aspirina todos os dias, segundo uma revisão de estudos publicada neste mês no jornal médico "Lancet".
O benefício trazido pelo remédio só começa a aparecer depois de cinco anos de consumo diário, de acordo com a pesquisa, que somou dados de mais de 25 mil pacientes.
Essas pessoas estavam tomando aspirina para evitar a recorrência de problemas cardíacos e foram acompanhadas pelos pesquisadores por no mínimo quatro anos.
O sexo dos pacientes e o tabagismo não influenciaram os resultados. Mas a idade, sim. Quanto mais velha a pessoa era, mais forte foi o efeito da aspirina.
Maiores de 65 anos que usavam o remédio tiveram um índice de morte por câncer 7% menor do que os que não tomavam, depois de 20 anos de acompanhamento.
EVIDÊNCIAS
O oncologista Paulo Hoff, diretor clínico do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, lembra que existiam evidências do efeito protetor da aspirina para tumores intestinais. A novidade é a influência do remédio sobre outros tipos de câncer.
"A aspirina reduz a incidência de pólipos no intestino, que são precursores dos tumores", afirma. O remédio quebra o ciclo de produção das prostaglandinas, substâncias que causam inflamações. Essa função da aspirina é a principal hipótese para explicar a redução na incidência de câncer.
No ano que vem, o Instituto do Câncer vai iniciar uma pesquisa para avaliar se o uso constante da aspirina evita o retorno do câncer em pacientes que já foram tratados por tumor de intestino.
DOSAGEM
O estudo não fixa a dose ideal diária de aspirina, mas mostra que os benefícios aparecem com quantidades pequenas do remédio.
Cerca de 20% dos 25 mil participantes do estudo tomavam 75 mg por dia. O comprimido infantil brasileiro tem 100 mg. Para pacientes cardíacos, as doses diárias recomendadas chegam a 300 mg. O comprimido normal tem 500 mg.
"Há efeitos colaterais. Se a dose for baixa, esse risco diminui", diz Hoff. Entre os problemas ligados ao uso da aspirina estão as úlceras estomacais e os sangramentos. Artur Katz, coordenador de oncologia clínica do Hospital Sírio Libanês, diz que a pesquisa junta dados de estudos que não tinham como objetivo medir a dose ideal do remédio para prevenir câncer e, por isso, outros trabalhos deverão ser feitos para aprofundar os resultados.
"O que fica claro é que não adianta tomar por um tempo e parar." Para o oncologista, o estudo é importante porque a eficácia da aspirina no caso de problemas cerebrovasculares já é comprovada e, agora, tem um "bônus" de reduzir a incidência de tumores. "O custo é muito menor do que outras medidas como exames de pesquisa de tumor. É uma droga simples, barata, que tem efeitos colaterais mas, na maior parte das pessoas, não traria maiores problemas."
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