Os relatos de ofensas e de ameaças e agressões físicas entre alunos, de alunos para professores, e, pasmem, até de pais de alunos para professores e diretores de escolas tornou-se uma epidemia, principalmente nas escolas públicas.
Hoje, o distanciamento da Família em relação ao cotidiano dos alunos nas escolas pode ser uma das causas dessa anomalia comportamental de crianças e de adolescentes. Não pode haver educação plena sem a participação efetiva da Família.
As autoridades que comandam a educação pública retiraram ou reduziram, ao longo do tempo, drasticamente, a autoridade dos diretores de escolas, através de ordens que foram mostrando aos responsáveis por alunos e aos próprios alunos que não se pode punir aqueles que cometem infrações aos regimentos das escolas ou que provocam danos morais ou materiais aos seus colegas ou ao prédio da escola., ainda que seja ferindo princípios éticos e morais que norteiam o convívio social humano.
A disciplina dos alunos no ambiente escolar não é mais prioridade. Isso é lamentável, porque, em grupamentos humanos, há que existir controle comportamental coletivo, através de regras estabelecidas pela própria comunidade, para que sejam respeitados os direitos de todos, por meio do cumprimento de deveres estabelecidos em consenso.Se não for assim, estará estabelecida a luta de todos contra todos e o caos se instalará.
Não se pode ter um grupamento humano reunido sem um mínimo de regras de convívio social para harmonizar as condutas, principalmente levando-se em conta que o direito de um termina quando se inicia o direito de outro.
Grupos humanos reunidos sem o mínimo de controle tendem a se tornarem massas amorfas e capazes de gerar conflitos internos e fraticídio. Não se trata de autocracia, porque defendemos a idéia de que o próprio grupo estabeleça tais regras, a partir dos costumes consolidados ao longo da existência. Há que haver comando que emerge do próprio grupo, por consenso.
Nas escolas municipais e estaduais no Rio de Janeiro, não há coordenadores de turno, inspetores de alunos, porteiros nem orientadores educacionais, como havia há algumas décadas. Há unidades escolares em que a direção faz tudo. Como se fala na linguagem esportiva, “ o diretor bate o corner e tem que ir para a área adversária para cabecear e tentar fazer o gol”. Um absurdo! É a cultura da economia burra dos que administram. Em Educação, não se gasta, investe-se.
É humanamente impossível um(a) diretor(a) de escola controlar a disciplina dos alunos, a entrada e saída de alunos e pais de alunos, a preparação e a distribuição de merenda, atender ao telefone, fazer os quadros estatísticos oriundos da CRE e do Nível Central, receber e conferir os produtos que serão usados para a confecção de merenda, substituir os casos de faltas de professores regentes de turma e acompanhar o andamento pedagógico de todas as turmas, avaliando alunos, professores e demais servidores ligados à educação, quando existem.
Se uma bica está com vazamento, se o vaso sanitário está com defeito, se há falta de giz , se uma lâmpada está queimada, o (a) diretor(a) tem que dar conta do problema e encontrar solução rápida.
Levando-se em conta que todas as mazelas da sociedade se refletem dentro da escola, é uma verdadeira loucura dirigir uma unidade escolar sem o devido apoio de pessoal e material.
Os conflitos das ruas vão para dentro das escolas. A divisão da cidade em facções criminosas tem reflexos na Escola. E como lidar com isso sozinho?
Há necessidade urgente de uma ampla discussão sobre essas questões que têm aumentando de forma exponencial os conflitos nas escolas. Dar as costas para essa realidade é permitir que a escola vire palco de brigas intermináveis entre alunos e entre pais de alunos, fazendo com que a Educação que se deseja fique mais distante por pura hipocrisia dos que fingem não perceber essa realidade diária em nossas unidades de ensino, principalmente, no setor público.