terça-feira, 5 de janeiro de 2016

arte do Grande Expediente 11/06/2015 Discurso 45ª Sessão

1ª Parte do Grande Expediente
11/06/2015

Discurso
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45ª Sessão

Senhor Presidente, Senhores Vereadores, senhoras e senhores, hoje o que nos traz aqui é a notícia do último final de semana, manchete de O Dia de domingo, 07 de junho.
“Papa afirma que mundo vive um clima de 3ª Guerra
Francisco critica conflitos e quem fomenta a especulação de venda de armas”.
Grifei aqui “quem fomenta a especulação de venda de armas”, porque me parece ser o foco dessa nossa análise. A notícia continua:
“Os inúmeros conflitos armados espalhados pelo planeta representam a Terceira Guerra Mundial. O alerta foi feito ontem pelo Papa Francisco, durante uma visita à cidade de Sarajevo, na Bósnia e Herzegovina onde ocorreu um grande massacre em 1994.
Em sua Homilia, Francisco ressaltou que o clima de guerra vivido pela Humanidade é “criado e fomentado pelos que especulam com a venda de armas”.
“Vivemos numerosos conflitos armados. É um tipo de Terceira Guerra Mundial combatida ‘em pedaços’...”
Pois bem, essa notícia que vem lá da Bósnia em razão da declaração do papa, parece-me que não é tão distante para nós. Eu, por exemplo, e todos nós que moramos na Praça Seca, em Jacarepaguá, estamos acostumados a perceber o clima de guerra. Estamos, na verdade, em meio a uma guerra entre traficantes.
Motivado por essas duas situações, resolvi procurar explicações para essa questão das guerras entre os homens. Notadamente nos campos da Antropologia, da Sociologia, da Biologia, da História e da Filosofia.
Por que os homens fazem guerra? Existem algumas teorias e eu trouxe algumas para analisarmos. Primeiro a teoria que diz que a guerra entre os homens começou pelo acesso às mulheres. Os grupos se organizavam para que tivessem acesso para capturar mulheres, para se satisfazerem do ponto de vista sexual, e esses grupos brigavam contra outros grupos que tinham a mesma finalidade. Acho que já ultrapassamos esse mecanismo, esse processo de obtenção da satisfação sexual. Não justifica, portanto, a nossa guerra urbana – tanto nas favelas, quanto no asfalto.
Segunda teoria: o medo dos predadores. Um grupo de seres humanos, com medo dos predadores, se organizava, conseguia armas e conseguia se livrar, teoricamente, dos predadores. Com isso, evidentemente, faziam rituais de vitória, que certamente transgrediam, passavam dos limites, que era somente atender à satisfação de vencer os seus predadores - e acabavam tendo conflito entre eles, para capturarem mais armas e ficarem mais fortes contra os predadores. Também me parece que essa etapa os seres humanos já ultrapassaram no Século XXI, não é?
A terceira teoria é a de Malthus, que é aquela teoria que todos conhecem, em que a população cresce demais (geometricamente), enquanto o alimento não cresce na mesma proporção (cresceria aritmeticamente). Nós já sabemos que essa teoria não é aceita no momento.
Outra teoria interessante é a teoria do pensamento de grupo. Alguns acham que na Guerra do Iraque isso justifica. O que é? Aqueles que têm afinidade formam grupos - por exemplo, grupos étnicos, grupos religiosos - que combatem outros grupos. Parece que no mundo ainda encontramos esse tipo de conflito, mas no Brasil não é uma prática. Graças a Deus não temos no Brasil, do ponto de vista étnico, religioso, nenhum conflito a ponto de trazer explicação para essas guerras.
Quando vamos procurar explicação historicamente, vemos que, em 2.525 a.C., na Suméria, território que hoje é o Iraque, havia já combates entre humanos, mas o motivo era normalmente por domínio econômico, territorial e político. Parece também que no Brasil isso não se percebe.
E vejam mais: “Estudo revela que, em 162 países, apenas 11 não estão em guerra”. O estudo foi realizado pelo IEP (Instituto para Economia e Paz).
Assim como a Suíça, o Japão e o Chile, o Brasil não está, segundo o IEP, envolvido em nenhum tipo de conflito. Entretanto, quando observamos outros indicadores, como a criminalidade, a população carcerária e a facilidade de acesso às armas, o Brasil cai muito na colocação geral. No ranking de paz global, ficamos em 91º lugar — vejam só, mesmo não tendo esse conflito que citamos — na metade de baixo da lista, em cujos extremos estão a Islândia, em primeiro lugar, e a Síria, em 162º lugar.
Escrevemos, então, um pequeno trecho sobre a nossa guerra:
“Vivemos, no Rio de Janeiro e em outras grandes metrópoles brasileiras, a nossa guerra, que tem origem no tráfico de drogas e no tráfico de armas.
Não há disputa religiosa aqui no Brasil, étnica, nem geográfica. É a disputa pela venda de drogas que nutre esses nossos conflitos urbanos em favelas e nas comunidades do asfalto.
A passividade do Poder Público, no que diz respeito às políticas preventivas de segurança pública, assim como o frágil, desorganizado e incompetente combate a esse tipo de tráfico, fomentam a guerra entre as diversas facções que exploram a venda ilícita. Muitas vidas inocentes se perdem nesse estúpido e, por vezes, corrupto cenário.
A indústria bélica” — e aí nós voltamos à fala do Papa Francisco — “é muito sofisticada e festeja, no Brasil, o crescimento dessas facções criminosas, porque, dessa forma, tem como vender as suas armas e a sua tecnologia de guerra, aumentando os seus ganhos financeiros.
Concluímos que o Papa Francisco proferiu uma verdade indiscutível: os grandes beneficiários dessas guerras pelo mundo afora são os que fomentam a especulação da venda de armas.
Eles são os grandes vencedores”.
Nós ainda temos a citar que a Praça Seca, onde moramos, não tem o privilégio de ser palco dessa luta urbana inexplicável — pelo menos para quem quer viver em paz — mas que tem as suas razões, como eu disse, no interesse da venda dessas armas produzidas por esses, que são os patronos dessa indústria.
Vejam só:
“Moradores vivem clima de terror no Complexo do Chapadão.
Eles são obrigados até a andar com comprovante de residência para não terem o carro roubado na região.
O toque de recolher, barricadas e a convivência diária com bandidos armados de fuzil não são o que mais assusta os moradores do Chapadão. Atualmente, os moradores seguem regras mais rígidas, estabelecidas pelo tráfico de drogas. Aterrorizados pela intensificação da guerra, pelo controle das bocas de fumo e roubo de carga e veículos na região mais violenta do Rio, os mais de 220 mil moradores do Chapadão têm suas rotinas alteradas a cada dia. Uma das normas mais recentes é a obrigação de andar com comprovante de residência, para terem livre acesso ao trânsito de carros. Quem não tem, pode ter o seu veículo roubado.
O complexo abrange 24 favelas de Pavuna, Ricardo de Albuquerque, Irajá, Costa Barros, Barros Filho, Anchieta e Guadalupe.”
Vejam só, senhores: não há dúvida alguma de que, para a gente terminar com esse quadro, é preciso que as autoridades encontrem soluções para reduzir essas guerras no Rio de Janeiro. Guerras que, como nós analisamos do ponto de vista histórico, geográfico, étnico, não têm razão de ser. Trata-se apenas de uma guerra que é alimentada para atender aos interesses das indústrias bélicas. Portanto, a receita está dada: basta que as nossas autoridades públicas tenham vontade política para resolver.

Muito obrigado!