sábado, 15 de fevereiro de 2014

VAMOS AMARRAR NO POSTE ?…E ESPANCAR?…

A Delegacia Policial do Catete está investigando a agressão a um adolescente espancado e preso a um poste com uma trava de bicicleta na noite do dia 31 de janeiro de 2014, na Av. Rui Barbosa, no Bairro do Flamengo. Foi aberto um inquérito para apurar o crime de lesão corporal. Quinze homens armados, intitulando-se ” Justiceiros” e alegando proteger o bairro e seus moradores de assaltos, furtos e roubos, foram os autores do fato.O menor já teve três passagens pela polícia por furto e roubo e nenhuma apreensão foi feita.
Nas redes sociais, houve muita polêmica sobre o tema, destacando-se alguns internautas que acharam que deveriam atear fogo no jovem e outros que lamentaram não terem colocado um cão do tipo “pitbull” para dilacerar o elemento amarrado ao poste.
Essa notícia foi amplamente divulgada pela Mídia. É claro que, em uma cidade onde os delinquentes aumentam, a cada hora, a sua ousadia, pela falta de uma política de Segurança eficaz, os cidadãos de bem se sentem no direito de fazer justiça pelas próprias mãos, uma vez que estão perdendo a confiança no Estado, que é o verdadeiro detentor do PODER DE PUNIR. São várias as decepções, desde prisões não feitas, afrouxamento no sistema prisional e normas que punem brandamente e que acabam estimulando o infrator até a corrupção no sistema. OS DELINQUENTES DEVEM SER PUNIDOS, SIM, MAS POR QUEM DE DIREITO.
É preciso refletirmos sobre esse tema, porque cabe ao ESTADO manter a SEGURANÇA PÚBLICA, evitando a LUTA DE TODOS CONTRA TODOS e a instalação do caos social.
Mas o Estado tem sido incapaz. Então, as pessoas, não suportando mais a insegurança, passam a apoiar, perigosamente, as medidas típicas dos ” tribunais de exceção”. Aprovam as chacinas, as torturas e todos os tipos de procedimento para punir os meliantes, porque a Polícia falha, a Justiça falha, o Estado falha. E a impunidade cresce fomentando as ações dos criminosos.
A figura do ” JUSTICEIRO ” passa a ser venerada; ocupa, de forma ilegal, o vácuo deixado pelas autoridades públicas, punindo, efetivamente e da sua maneira, dentro de suas regras e de seus mecanismos, os criminosos ou suspeitos.
Quem mora nas zonas Norte e Oeste da Cidade do Rio e na Baixada Fluminense já conhece bem como essa prática evolui. Primeiro, os ” justiceiros” dizem defender a comunidade GRACIOSAMENTE. São aprovados e admirados pelos membros da região. A seguir, organizam-se em grupos, formando verdadeiras ‘ empresas” de segurança, passando a cobrar ” taxas” e “pedágios” por eles instituídos que devem ser pagos por moradores e comerciantes de forma compulsória, sob pena de perderem suas residências ou seu comércio. Ou de serem assaltados de modo misterioso.
Monopolizam as vendas de botijões de gás, acesso à Internet ( gatonete), e o transporte alternativo. Criam códigos, regras e estabelecem os costumes a serem seguidos por todos da comunidade. Só alguns religiosos podem instalar igrejas e professar a sua fé; só os políticos a eles ligados podem fazer propaganda e o voto é de cabresto. TUDO FICA DOMINADO !
É, pois, oportuno que se tenha cuidado com essa euforia, diante das atividades desses que se apresentam como “salvadores da pátria” no que tange à Segurança Pública. Pagamos inúmeros impostos muito caros ao Estado e merecemos receber a Segurança Estatal, que é a LEGAL.
Aos homens, é perigoso se dar excesso de Poder, como o poder de punir, sem as normas estabelecidas em LEI aplicável pelo ESTADO e obedecendo aos princípios constitucionais.
Aliás, também é lícito ressaltar que, se formos amarrar no poste todos os que roubam e furtam no Brasil, teremos que nos lembrar de muitos políticos corruptos ; de muitos maus empresários; de maus religiosos; de quem governa e rouba a educação pública e a saúde pública; dos que superfaturam; dos que pegam o dinheiro brasileiro para dar a outros governos em detrimento do nosso povo. Não é justo amarrarmos nos postes apenas os ladrões pobres, mas também os ladrões de colarinho branco que enriquecem ilicitamente à custa de obras e compras superfaturadas ou não licitadas corretamente e colocam seu dinheiro nos paraísos fiscais. Bater e amarrar no poste cachorro morto é fácil.
Se os malfeitores do povo brasileiro, todos, ricos e pobres, forem amarrados nos postes, não haverá poste no Brasil suficiente para fazer essa tal justiça.