Quando reclamamos por uma sociedade mais fraterna e
solidária, os egoístas de plantão se insurgem contra nós; quando
apelamos para que lutemos por uma prestação de serviços públicos de
saúde e de educação, de qualidade e universal, os egoístas de plantão
respondem que não têm nada com a miséria dos outros, já que têm plano de
saúde, podendo fazer uso de boas clínicas e de bons médicos e que seus
filhos estudam em escolas particulares.
Quando combatemos para a implementação de estratégias de
habitação, de saneamento básico e de urbanização das comunidades, dando
às pessoas que ali moram um tratamento digno e humano, os egoístas, de
forma pueril, ignoram o nosso discurso. Alienados ou alienantes, ficam
contemplando as desgraças que se apresentam nos telejornais, como se
aquelas mazelas jamais lhes pudessem atingir, de forma direta ou
indireta. Saboreiam o noticiário macabro como se as realidades daquelas
pessoas que moram aqui, em nossa Cidade, estivessem em outro planeta.
São insensíveis.
Quando insistimos que não deve haver tanta concentração de
renda e defendemos a justiça social, constatamos descaso de muitos que
poderiam se juntar a esse clamor, mas qual nada, cada um quer saber de
si e somente de si. Esses egoístas olham e guardam apenas o seu umbigo,
esquecendo-se da velha fala que assevera como um axioma " enquanto um
órgão estiver doente, todo o organismo sofre".
Sabemos que é utópico desejar que todos os
cidadãos tenham situações iguais, mas cremos que é possível reduzirmos
as discrepâncias, minimizando o sofrimento e a exclusão de muita gente
do desenvolvimento econômico do País.
Todo esse descaso da sociedade e dos
governantes promove tensão social e aprofunda a segmentação da
sociedade, já que se notam os ricos e os de classe média de um lado,
contrapondo-se aos excluídos do mercado e da farra do consumo situados
no outro polo. Esses últimos se sentem marginalizados e se colocam como
adversários dos primeiros. Essa reação é humana e compreensível, pois
eles percebem que não têm direito a nenhuma fatia do bolo.
Jovens sem escola, sem família
estruturada, sem religiosidade, sem referência política, sem exemplos a
serem seguidos, sem perspectivas de progresso e de futuro percebem que
precisam marcar suas presenças. São cooptados para "trabalhar" para o
crime, aceitam desafios de enfrentar as leis e os costumes, promovem
arruaças nas praias, nos ônibus, nos estádios de futebol, nos bailes
funk, e, agora, nos shoppings. Isso não é por acaso. É um fato social
importante que devemos levar a sério e procurar saber e avaliar onde
erramos.
Ninguém se deu conta de que as omissões podem ser causas de danos irreparáveis. Vamos acompanhar os desdobramentos, mas saibam que esse é um fato social a ser tratado com muita sabedoria; não é só com repressão policialesca. Nós, sociedade, temos que fazer nossa reflexão, assumir nossa culpa e procurar uma saída lúcida para o problema.