quinta-feira, 10 de maio de 2012

A " mistura" Delta - BNDES é coisa muito estranha .


A compra dos fundos da Delta Construções pela holding J&F, que controla o frigorífico JBS, não apresenta problemas legais, mas a fusão não deixa de ser suspeita, afirmam especialistas. A empreiteira está envolvida nos escândalos com Carlinhos Cachoeira, descortinada em fevereiro pela Polícia Federal. A Delta ainda é a principal empresa nas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo Federal.

A confusão entre público e privado não acaba aí. Cerca de 30% das ações da JBS são atualmente controladas pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), e as relações políticas entre o governo e o frigorífico são conhecidas: ambas as empresas envolvidas na fusão já contribuíram financeiramente em campanhas políticas.

"Sabe-se bem, através de estudos, que as empresas que financiam campanhas abrem mais portas no governo, e conseguem benefícios muito bons", analisa Sérgio Lazzarini, professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), autor de diversos artigos e do livro "Capitalismo de Laços".

A entrada do frigorífico no ramo da construção civil também é vista com desconfiança pelo especialista, que questiona a escolha da J&F.

"É uma diversificação estranha, porque entrar (no ramo das empreiteiras) agora? Porque a Delta? É muito curioso que isto ocorra neste momento, em que a Delta está muito envolvida em obras do PAC via financiamentos públicos, mas também em casos de corrupção", afirma.

Apesar do desgaste da imagem da Delta - que deve, inclusive, perder algumas obras do PAC - o professor acredita que a mudança é uma tentativa de melhorar o conceito da construtora e assim, reconquistar a credibilidade para assinar novos, e recuperar antigos contratos.

O governo sinalizou insatisfação em relação ao movimento das empresas, que deverá ser anunciado oficialmente ainda nesta quarta-feira, 9. Para Lazzarini, a posição contrária é uma tentativa de mostrar que não houve interferência por parte de Brasília na fusão.

"É estranho que a JBS, que tem por exemplo, o Henrique Meirelles, e excelente conexão com o planalto, vá fazer algo que desagrade o governo. Não se pode dizer que a fusão ou o financiamento de campanhas signifique corrupção necessariamente, mas são movimentos estranhos", analisa. ( Fonte : JB ).